António Lobo Antunes foi entrevistado por Judite de Sousa a propósito do lançamento do seu novo livro, "Que cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?". Quando questionado acerca da polémica envolvendo as declarações de José Saramago, começou por dizer que preferia não comentar. E ao não comentar, mas já comentando, lá afirmou que embora sem conhecer as declarações em profundidade, lhe parecia que a comunicação social havia encarniçado umas declarações infelizes. A conversa prosseguiu, e acabou por revelar que o que não gostava era de chegar aquela idade com tão pouco senso crítico. Para quem afirma não haver polémica entre ambos, acabou por utilizar um eufemismo não muito subtil para chamar a Saramago velho e caduco.
No mais, embora tenha ficado conotado com uma postura arrogante nos últimos anos, continua a ser um prazer ouvir as suas entrevistas. Falou da doença que sofreu, e o que isso mudou na sua visão do mundo. A importância de um segurar de mão antes da operação. Ele que confessou que quando era novo e exercia medicina, os pacientes eram sobretudo casos, meros números. Viu-se agora do outro lado da barricada. Contou como chegava a uma sala de espera cheia, com as televisões ligadas para quem ninguém olhava. O orgulho que sentiu em ser português quando viu a dignidade com que aquelas pessoas encaravam a morte certa. Como quando já sabia que ia viver, olhava para crianças que não iam, e pensava como era injusto. Contou a história de um velhote que sempre que ia à consulta, levava o seu melhor fato, sem g ravata. O seu melhor fato era também o seu único, pelo que com o tempo foi ficando cheio de manchas. No entanto, quando se levantava, caminhava com a graciosidade de um príncipe. E nessa postura, Lobo Antunes viu a gravata mais bela do mundo.
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