quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Maldição de Edgar - Marc Dugain



 "A Maldição de Edgar" é uma ficcionalização da vida de Edgar J. Hoover, o homem responsável pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) nos termos em que o conhecemos. Existem rumores infindáveis acerca da sua vida. Desde que se tratava de um homem de rara verticalidade, até que era alguém sem qualquer pejo em utilizar abusivamente os colossais meios ao seu dispor para benefício próprio. Marc Dugain recorre ao expediente das memórias fictícias de Clyde Tolson, braço direito de Hoover (e possivelmente seu amante), para nos contar a história da sua vida.

Hoover dirigiu o FBI durante 48 anos (1924-1972), e atravessou 8 Presidências (entre as quais Roosevelt, Truman, Kennedy e Nixon). É inédito que a mesma pessoa se mantenha num cargo desta natureza durante um tão vasto período de tempo (precisamente devido a esta situação, os mandatos no mesmo encontram-se agora limitados a dez anos). Sobretudo, quando quase todos os Presidentes com que se cruzou, tentaram, em determinada momento, afastá-lo. Dugain elabora sobre os expedientes que terá utilizado para se  salvaguardar. Era raro existir alguém que merecesse a pena mencionar, sobre o qual Hoover não tivesse um detalhado dossier pessoal com algum tipo de informação comprometedora. Mas mais do que centrar-se na personalidade de Hoover, o livro utiliza a sua longa liderança à frente do FBI, como fio condutor para narrar um período particularmente rico da história norte-americana, tanto nas suas vertentes política como criminal. É dada particular importância à família Kennedy, acompanhando o seu percurso desde a ascensão ao trágico declínio.  Podemos conhecer a opinião (extremamente negativa), que tinha do clã que representava o sonho americano. Outras temáticas como a II Guerra Mundial; a Guerra fria em que o combate ao comunismo era uma prioridade; a postura dúbia da lei e do FBI perante o crime organizado na sua época dourada; a morte de Marilyn Monroe e o assassinato de JFK, são também alvo de escrutínio.

A razão da existência de Hoover era o seu trabalho. Considerava-se o único habilitado a defender a América dos perigos que a ameaçavam, e estava disposto a fazer o necessário para se manter na posição que o permitia fazer. Na sua esfera mais pessoal, o livro aborda as alegações da homossexulidade de Edgar Hoover, e descreve a sua relação com Tolson como a de um casal. Aquando do seu falecimento, Tolson foi o seu herdeiro, recebeu inclusive a bandeira no seu serviço fúnebre. Analisa também a forma pouco saudável como encarava as mulheres, comportamento que encontra as suas raízes numa idealização excessiva da mãe e na incapacidade para lidar com um desgosto amoroso ocorrido cedo na vida.

A escrita de Marc Dugain é boa e assertiva. Adopta um tom de relatório oficial, o que é consistente com a sua suposta autoria por Tolson. A narrativa atinge os seus momentos mais conseguidos quando descreve determinado episódio de forma mais mordaz. Recomendável apenas para quem já tenha um interesse prévio pelos assuntos mencionados, sob pena de se tornar fastidioso.

Classificação: 6,5/10

Edição: 2006
Páginas: 228
Editor: Ambar

Porque os livros são como as cerejas: "Memórias de um Agente Secreto"

Sem comentários: