terça-feira, 30 de junho de 2009

Ele é o nosso pastor e nada nos faltará

Para desgosto de algumas fãs benfiquistas, Jorge Jesus não é tão guapo ou bem falante como o seu antecessor. Mas como ele vem para treinar os jogadores, e não para os engatar, tanto se me dá. Ah, mas é bronco e tal...Não faz mal, aquilo não é para descobrir a cura da tuberculose. É para jogar futebol. E se lhe chamarmos abordagem pluridisciplinar à metodologia de treino futebolístico, o objectivo continua a ser meter a bola na baliza mais vezes que os outros. No meio da confusão que vai naquele clube, vejo-me ainda assim a ter fé no trabalho deste homem. O objectivo é perceber o conteúdo do jogo. Pois bem, ele percebe-o. Não o desdenhem pela embalagem.

Você também pode ser um opinion maker!

Anda por aí uma grande celeuma (1, 2 e 3) acerca do novo programa de opinião de Pacheco Pereira, "Ponto Contra Ponto". Só posso falar dos minutos finais, os únicos que vi. E há algo de impagável em ver um opinion maker normalmente tão exigente com as declarações de outrem, a folhear os classificados de putedo de um jornal, enquanto nos explica que o seu elevado número é por si só um forte indício da crise que atravessamos. Por momentos, senti que encontráramos o nosso próprio Daily Show. Depois do Gato Fedorento, Contemporâneos e Tempo Extra com Rui Santos, não haja dúvidas que o domingo é a noite de humor por excelência na televisão portuguesa.

Adenda: Para além da oferta de serviços sexuais, os outros indícios apresentados foram o suplemento referente a execuções pelas finanças e as propostas de procura de emprego. De forma empírica, são inferências prováveis. Mas daquele tipo de espaço espera-se mais. Estes factores não foram traduzidos em números, actuais ou passados. É uma presunção, e não um facto, que tenha existido um aumento dos mesmos. E em termos de crítica a este tipo de postura, ninguém é normalmente mais intolerante (e com razão) que Pacheco Pereira.

30 Anos de Antígona

A Antígona celebra trinta anos. E o Cadeirão Voltaire faz as despesas da comemoração (I,II,III). Espero que dure pelo menos outros 30, porque o seu catálogo efectivamente diferencia-se da maioria do que se publica em Portugal. E quanto mais não seja, quem trata as obras de George Orwell com o cuidado que esta casa o faz, só por isso já merece lugar no céu.

Stieg Larsson na tela

Parece que vamos poder ver em Portugal a adaptação cinematográfica dos primeiros volumes da trilogia de Stieg Larsson. E o último livro está quase a ser lançado.

no Bibliotecário de Babel

domingo, 28 de junho de 2009

O que ando a ouvir (2)



Roberto Cacciapaglia - Canone degli spazi
&
Patrick Wolf - The Bachelor

Roberto Cacciapaglia foi um artista que descobri por mero acaso aqui. Por enquanto conheço apenas este álbum, que quanto mais ouço, mais gosto. Quanto a Patrick Wolf, consegue superar-se de álbum para álbum. Mas vou deixar que seja Nuno Galopim a convencer-vos do mérito do seu último trabalho.

Aquisições Junho (4)


Graças a um passatempo organizado pela simpática Mónica no seu Leituras e Devaneios, acabei por receber um livro este mês com que não contava: "Dead Until Dark" de Charlaine Harris, 1º volume de "The Southern Vampires Series". Como ainda não vi a adaptação televisiva, "True Blood" (da responsabilidade de Alan Ball, criador de "Six Feet Under", só pode ser boa), a história vai ser uma completa surpresa para mim. E estou convencido que boa.

Viva Salgari!



A editora Via Óptima, lançou recentemente uma colecção com a obra de Emilio Salgari. O Porta-livros falou da mesma aqui, aqui e aqui. Embora sendo um autor a quem se faz repetidas referências, a verdade é que não é fácil encontrar grande parte dos seus livros no nosso mercado. Espero por isso, que seja possível levar esta colecção até ao fim. É importante que o maior número possível de interessados adquira estes livros. É a melhor forma de ajudar uma editora que não é um gigante de mercado a obter retorno, e a continuar com esta aposta. Edições portuguesas de livros como "O Corsário Negro" e "Sandokan", deveriam estar permanentemente disponíveis. Não vão ser o próximo best-seller de Verão, mas irão sempre vender. À semelhança de autores como Júlio Verne e Alexandre Dumas, a obra de Salgari tem capacidade para apelar a diferentes gerações e estabelecer pontos de contacto entre as mesmas. São títulos ideais para a difícil fase de transição entre uma literatura mais infantil, e um outro tipo de livros, já mais adultos. Mas é preciso impedir que caiam no esquecimento.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Não acredito em bruxas...mas que elas existem, existem


Hoje, dos três noticiários televisivos das 13h00, a TVI e SIC começaram com a comunicação do Governo de que se opõe à aquisição de parte da TVI (30%) pela PT. A RTP optou pela morte de Michael Jackson. E nessa matéria permaneceu durante 14 minutos. Passou testemunhos vindos da América. Entrevistou Nuno Braancamp, organizador de um concerto dado pelo artista em Portugal. Entrevistou também animadores de rádio e funcionários de lojas discográficas acerca do assunto. E só depois abordou a comunicação do Governo. Ouvimos o Primeiro-Ministro falar, como se tratasse de uma coisa de somenos importância. Como se tivesse mudado de ideias acerca do nome a atribuir a uma iniciativa governamental corriqueira. Em seguida, declarações de um representante parlamentar de cada um dos partidos da oposição. Por último, um extracto da entrevista dada por Zeinal Bava na véspera à RTP. No total, não chegou a 6 minutos. Menos de 50% do tempo dedicado ao falecimento de Jackson. Nenhuma referência a como se trata de um assunto sensível, cheio de avanços e recuos mal explicados. Nenhuma referência ao sapo que mais parecia um boi, que o Governo teve de engolir depois das declarações anteriores. Nenhuma análise sobre as repercussões que este passo terá na empresa de telecomunicações.

Pacheco Pereira disserta recorrentemente contra a instrumentalização da televisão pública pelo Governo. Nem sempre concordo com a sua opinião, ou pelo menos com o grau da mesma. Mas tenho de admitir que não está apenas em causa uma imaginação fértil e teorias da conspiração. E tenho curiosidade em saber; numa altura em muitos jornalistas (felizmente não todos) realizam mais julgamentos sumários do que investigações acerca de todos os quadrantes da sociedade, se aplicarmos o mesmo crivo ao seu trabalho, quais os critérios jornalísticos seguidos que justifiquem esta opção?

O segredo deve mesmo ser a alma do negócio


Ficamos a saber que as Feiras do Livro de Lisboa e Porto foram um sucesso. Mais de 350 mil visitantes e um aumento entre 10 a 20% nas vendas, em relação ao ano anterior (em tempos de crise é sempre positivo). O que ficamos sem saber, novamente, é o volume e valor de vendas de cada editora, que recusaram fornecer esses dados. Cada vez mais ouvimos falar na profissionalização do mercado da edição em virtude das suas novas exigências; em como é preciso inovar porque não falamos apenas de livros, agora são conteúdos. É necessária uma estratégia para diferentes plataformas. Faz sentido. E será que para a tão almejada maturidade e profissionalização do mercado, não seria importante dados fidedignos? Não é importante saber o que se vende e em que quantidade? Continua a haver uma resistência por parte das editoras em providenciar os dados da sua actividade. Não falamos de dados confidenciais, mas dos normais resultados da sua actividade. Excepto se estivermos a falar de um best-seller que bateu recordes no número de edições e exemplares vendidos. Nesse caso, não falta a indispensável fitinha que nos lembra fazermos parte de algo maior que nós; de um verdadeiro fenómeno.

Não acredito em negócios que se mantenham abertos com prejuízos crónicos. Editoras inclusive. Ninguém vive do ar, pelo que o que não dá dinheiro acaba por fechar (salvo uma excepção ou outra). Podem dar pouco dinheiro, mas dão algum. A verdade, é que estamos constantemente a ser bombardeados com discursos de como a edição é um negócio periclitante. Cerca de 50% dos portugueses não compra um livro por ano! As pessoas não lêem e o Estado devia intervir! Se alguém insinua que um livro é caro para o consumidor (o que é diferente de afirmar que é caro para os custos de produção, distribuição e retalho que teve), cai o carmo e a trindade. Permitam então que os interessados possam cruzar o máximo de informação possível sobre a edição literária, e não apenas a que lhes convém. Quanto mais informação disponível houver, mais aumenta a probabilidade de cada um dos seus agentes fazer opções adequadas no futuro. E mais legitimidade terão para chamar a atenção para os seus problemas específicos. Que mais não seja para evitar casos destes, que nos remetem para uma tão típica chico-espertice portuguesa.

Adenda: Pelo menos a Leya disponibilizou alguns dados referentes à facturação e aos autores mais vendidos (genericamente, sem referir números quanto aos exemplares vendidos). Mas no seu caso compreende-se. Um grande grupo, com grandes vendas, transmite uma imagem de vitalidade. Se alguém souber onde existe informação mais detalhada acerca destas matérias, não se coíba de a partilhar. Fica desde já o meu agradecimento.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O que ando a ouvir



Bliss
No one built this moment
&
Bat for Lashes
Two Suns

Os 25 Anos da Taschen (4)

No seguimento de Parabéns Taschen!



"Alchemy & Mysticism"
Roob, Alexander
Softcover, flaps, 14 x 19.5 cm (5.5 x 7.7 in.), 576 pages
€ 9.99

Os 25 Anos da Taschen (3)

No seguimento de Parabéns Taschen!




"20th Century Potography"
Museum Ludwig Köln
Softcover, flaps, 14 x 19.5 cm (5.5 x 7.7 in.), 760 pages
€ 9.99

Seviço público para fãs de Manga

Para quem gostar de manga e quiser acompanhar as séries da sua preferência, pode fazê-lo através do One Manga. Mantém-se muito actualizado em relação à saída de novos capítulos e respectiva tradução do japonês. Embora seja um fansite, pede meças a muitos projectos profissionais. Pela minha parte, o vício que me faz passar por lá de tempos a tempos é de momento a série Naruto.

Da Literatura fala sobre a nova Guimarães

Texto interessante sobre o rumo que a editora de Paulo Teixeira Pinto está a seguir aqui.

Aquisições Junho (3)

Paris Mon Amour
Gautrand, Jean-Claude
Softcover, 24.5 x 32.9 cm (9.6 x 13 in.), 240 pages
Taschen

Optimista/Negativista - O Teste Derradeiro

Leia o "1984" de George Orwell. Consoante o final seja uma surpresa ou o que já estava à espera, saberá, definitivamente, a que categoria pertence.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Rodrigo Leão tem novo álbum


Chega hoje às lojas o novo projecto de Rodrigo Leão, "A Mãe". Desde que descobri o seu trabalho com o álbum "Alma Mater", fiquei fã devoto. Duvido que o homem consiga fazer um álbum mau mesmo que queira.

Sugestões 2 - "DA PÉRSIA DAS ROSAS E DA POESIA À REPÚBLICA ISLÂMICA DO IRÃO" - Câmara Clara 21/06/09

O programa Câmara Clara emitido no último domingo, é uma excelente forma de compreender um pouco melhor a realidade complexa que é o Irão, seja a nível político, cultural ou religioso. Vale bem a pena dispender uma hora do nosso tempo. A emissão estará brevemente disponível aqui.

"A jornalista Margarida Santos Lopes cobre o Médio Oriente há 30 anos. Ângelo Correia é dos portugueses que melhor conhece o vasto e diverso mundo islâmico. Ambos vão analisar as circunstâncias que conduziram à actual crise de uma nação com 2500 anos de História, do primeiro golpe organizado pela CIA para derrubar um governo estrangeiro, em 1953, ao apoio que alguns ricos judeus iranianos deram à revolução islâmica. "O Xá obliterou a alma islâmica do Irão e exacerbou a sua alma persa. O Khomeini fez o contrário: silenciou a alma persa e exacerbou a islâmica." Haverá lugar para uma terceira via?"

Os 25 Anos da Taschen (2)

No seguimento de Parabéns Taschen!







100 All-Time Favorite Movies
Hardcover, 2 vol. in a slipcase, 24 x 30.5 cm (9.4 x 12 in.), 800 pages
€ 39.99

domingo, 21 de junho de 2009

Aquisições Junho (2)



"Tertúlia de Mentirosos - Contos Filosóficos do Mundo Inteiro" - Jean-Claude Carrière - Teorema - Janeiro 2000

"São contos, são filosóficos e vêm do mundo inteiro. São zen ou sufi, chineses ou judaicos, indianos ou africanos. São, também, europeus, americanos, contemporâneos. Engraçados, graves, ou as duas coisas ao mesmo tempo. São, por vezes, ambíguos, desconcertantes e, até, inquietantes. Parecem-se connosco."

"Diálogos com Agostinho da Silva - O Império Acabou. E Agora?"- Natália de Sousa - Casa das Letras - 6ª edição Maio 2006

"Nos anos de 1986 e 87, a jornalista Antónia de Sousa gravou uma série de conversas com o pensador Agostinho da Silva, "pautadas de reflexões mas também de muitos risos". São estas conversas, que até hoje permaneceram inéditas, que compõem o volume agora dado à estampa. Um livro indispensável, uma "leitura fascinante" de Portugal e dos portugueses, dos mitos fundadores da nacionalidade e da identidade nacional, às figuras e às obras de gente como o Pe. António Vieira ou o poeta Fernando Pessoa, que ajudaram a definir o país que somos e que sonhámos."

No caso do livro de Agostinho da Silva, o que posso dizer é que a forma como encarava o mundo foi o seu grande legado e merece genuinamente ser conhecida. Quem teve oportunidade de ver e ouvir alguma das entrevistas que deu, sabe como é difícil não ficar enfeitiçado de imediato.

sábado, 20 de junho de 2009

Vislumbres 2

Robert Doisneau - "O Beijo do Hôtel de Ville" - Paris, 1950

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Noites de Cocaína - J.G.Ballard



Charles Prentice é um jornalista britânico que ganha a vida a escrever sobre viagens. O tipo de pessoa que gosta de conhecer todos os lugares, mas não pertence a nenhum. Quando o seu irmão Frank, que havia assentado arraiais numa estância na Costa do Sol, é acusado pelo homicídio de cinco pessoas, o carimbo de Espanha é o próximo na colecção do passaporte de Charles.

Embora ninguém, polícia inclusive, pareça acreditar, Frank, que desempenha as funções de gerente do conceituado Club Nautico, insiste em manter uma confissão em que se assume como responsável pelo incêndio que provocou tantas mortes. Não só se mantém inflexível nesta matéria, como recusa contar ao irmão pormenores do que se passou ou a razão para o seu comportamento. Charles embora desconcertado, mas convicto da inocência do irmão, decide investigar por conta própria.

Na estância de Estrella del Mar, residentes maioritariamente britânicos vivem uma segunda juventude. Pessoas que atingiram o pico do sucesso cedo na vida vêem viver para aqui para finalmente fazerem tudo o que sempre quiseram. Representa um estranho contraste com os empreendimentos semelhantes que acabam por se caracterizar pela letargia constante e uma fobia do mundo exterior. Mas quando Charles mergulha mais profundamente neste mundo, apercebe-se que a expressão realizar todos os sonhos é encarada literalmente. Existem comportamentos que um outsider não consegue compreender. Como pessoas que assistem a uma violação e nada fazem. Existe uma relação sombria entre um tipo de criminalidade que oficialmente não existe e a própria vitalidade da comunidade. É esse enigma que Charles precisa de deslindar para descobrir o que aconteceu ao irmão.
Acaba por se envolver com uma antiga namorada do irmão e por conhecer Crawford, uma espécie de messias da mentalidade dominante e que representa a chave para ser aceite num mundo que até aí o parecia querer ver pelas costas. Com o tempo, Charles (e um pouco o leitor com ele) vai sendo assimilado por este mundo e acaba por tomar de certa forma o lugar do irmão. Acaba também, por ficar tão indiferente ao destino de Frank como todos os outros (embora não o consiga encarar).

Do (pouco) que li de Ballard, este romance não consegue ser tão incómodo como outras obras. Embora falando de como somos afectados pela violência e sexualidade, a perspectiva que nos fornece (para mim Ballard tem sobretudo a ver com analisar os instintos e emoções que movem o ser humano sob perspectivas diferentes da mainstream e normalmente mais sombrias) embora alternativa, não é brutal. Talvez ambígua seja a melhor forma de descrever. Para quem gosta de Ballard, provavelmente não achará este um dos seus melhores trabalhos. Mas para fãs ainda condicionais ou recém-apresentados, será uma aposta mais segura.

A vertente policial do livro, solucionada apenas no final, ajuda a equilibrar o prisma mais psicológico e sociológico da história. O final, embora moderadamente previsível, é bem conseguido em relação ao espírito da obra, e foi o suficiente para elevar uns furos a minha opinião global da mesma.

"Noites de Cocaína"
J.G.Ballard
Tradução de Mário Correia
Quetzal Editores
Maio,2003

Batalhas da II Guerra Mundial

Para quem tiver interesse pelas batalhas da II Guerra Mundial, sai hoje, com o Correio da Manhã, o primeiro volume ("A Invasão da Polónia: Guerra-Relâmpago") de uma colecção dedicada ao tema. Com um preço promocional de 1,95€ (restantes volumes a 7,95€), é da responsabilidade da Osprey Publishing, editora com vasto catálogo em monografias ilustradas sobre história e estratégia militar.

terça-feira, 16 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Portugal no Mundo

Sociedade Civil e Comunicação Social discutem se Ronaldo, o actual representante dessa honra e responsabilidade enormes que são ser o nome de Portugal no Mundo, se anda a comportar condignamente e de acordo com tais pergaminhos. Tudo porque foi visto a ir para a casa de Paris Hilton para discutirem estratégias de investimento conjuntas. O homem não é jogador? E não jogou enquanto a época durou? Ao ser bom profissional, fez a sua obrigação, e fez mais que outras "estrelas" da mesma constelação. De resto, faz pela vida. Triste é ver todos aqueles abutres, à espera noite fora, que o Fenómeno se acabe de aviar. É importante registar o pós-coito para a posteridade. Abençoada imprensa livre!

Adenda: Se o Ronaldo é o rosto de Portugal (talvez alterar-lhe o nome para Ronalldo, não?), isto significa que o look macho latino está outra vez in?

O Twitter mais poderoso que a espada

Como o Twitter tem servido para transmitir informação não censurada das "eleições" no Irão. E uma referência à importância da nossa livre comunicação social que remete este assunto menor para depois de analisar como Hilton, o novo engate de Ronaldo, gosta de andar solta e ao natural.

Lista de Desejos

Mais um para a lista de desejos. O seu antecessor "Budapeste", foi um dos livros mais belos e marcantes que já li. Quero ver se Chico Buarque conseguiu pelo menos igualar a força da estória do escritor anónimo José, dividido entre duas cidades, duas línguas, duas vidas . "Budapeste" está incluído na colecção BisLeya, pelo que quem o quiser adquirir, o pode fazer por cerca de 6€. Uma verdadeira pechincha.

sábado, 13 de junho de 2009

Está tudo cinco estrelas!

Via Cadeirão Voltaire, descobri um interessante texto de Francisco Vale no blog da Relógio D'Água, em que este disserta porque não faz sentido para si o sistema de pontuação quantitativa de livros (as famosas estrelas incluídas).

Tudo isto aconteceu. Tudo isto voltará a acontecer(?)

Ao fazer um intervalo no trabalho, passei os olhos na rtp2. Estava a dar um documentário sobre um campo de concentração alemão, que tem sido mantido como testemunho do que aconteceu. Os visitantes escutam os guias explicarem como funcionava aquele lugar. Os registos de mortes que se dividiam entre os suicídios e as mortes legais. Não havia outro tipo de mortes. Às vezes, os SS executavam alguém a sangue frio. Sem necessidade de um porquê. Atiravam depois o corpo para a vedação, tiravam uma foto para o registo, e pronto, mais um que não aguentou a pressão. Quem é que ia estranhar? Estamos a falar de judeus e afins. Não se pode esperar muito. Quem é que se ia importar? Às vezes, os detidos estavam tão magros, que quando lhes batiam com um bastão de borracha, a pele rasgava. Tudo era tão organizado, tão eficiente. Existia um organograma para dividir os ocupantes em categorias. Os mais susceptíveis de fugir tinham um ponto nas costas. Uma ajuda visual para os guardas. O pior dos piores, era o judeu homossexual. Mas esses não duravam muito. Uma vizinha do campo, conta como viu uma pilha de corpos empilhados quando voltava das compras. Nem se deram ao trabalho de os matar a todos antes. Faz sentido. Optimização de recursos. Faz todo o sentido. Vemos os "duches", os fornos. Vemos os excursionistas questionarem-se como metiam as pessoas no seu interior. Estariam mortos ou vivos; iriam de livre vontade?

Meu Deus! Como é que isto foi possível? Racionalmente sei até onde pode ir a crueldade humana. Sei até onde já foi, pelo menos. Mas ao ver aquilo...Como é que fomos capazes de o fazer, de o permitir. Elie Wiesel, sobrevivente do holocausto e Prémio Nobel da Paz, escreveu uma frase no seu livro "Noite", em que relata as experiências que viveu em dois desses campos:"Eu era o acusador, e Deus o acusado. Com os olhos bem abertos, vejo que estou só - terrivelmente só num mundo sem Deus e sem Homem." É uma boa maneira de pôr as coisas.

Quanto mais o tempo passa, mais necessários parecem estes santuários reconvertidos. Para nos lembrarem do que se passou; para nos subtraírem a possibilidade de esquecer ou relativizar. Confesso que achava um pouco macabra a peregrinação a estes lugares (excepção feita a sobreviventes). Vou vendo as coisas de forma diferente. Os testemunhos que nos foram legados materializam-se ali. Existiu mesmo. Parece coisa pouca, mas pouco mais de 60 anos foram suficientes para surgir o negacionismo destas atrocidades (com um número crescente de adeptos). Ou então, discutem-se os números. Como seis milhões de mortos é claramente exagerado. Na melhor das hipóteses, quatro. E vá lá. Não por rigor histórico. Mas como atenuante. Não foi tão grave assim afinal. Não importa que o único motivo para não ter sido ultrapassada a barreira dos dez milhões; dos vinte milhões, foi alguém tê-los detido. Mas talvez alguns lamentem apenas que os nazis não tenham conseguido acabar o serviço.

No final, um dos responsáveis explica que as aves e os animais não se aproximam do campo. Pode ser do cheiro do crematório, diz. Ele acredita que é porque sentem a morte.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quem fala assim não é gago

(...)Certa vez escrevi um texto sobre a função pública que indignou de tal forma um senhor que ele encerrava o seu mail furibundo,com esta frase maravilhosa sobre a minha pessoa: "Que bela punheta que se perdeu."Reparem que, ao contrário das ofensas mais batidas, esta evita dizer mal dos meus progenitores ao mesmo tempo que atinge o mais ínfimo de mim. Ela afirma isto: "Mas porque é que o pobre do seu ppai se lembrou de ir gastar um dos seus espermatozóides consigo?" Isto é magnífico, com alguma dor, a perda de um belo momento de onanismo, trocado pele miserável concepção da pessoa cuja triste figura podem verificar na foto apensa. Nem o capitão Haddock se lembrou de tal, embora desconfie que a palavra "punheta" não ficasse particularmente bem num livro de Tintim.(...)

João Miguel Tavares - jornalista e director-adjunto da Time Out no sofá da revista LER Junho 2009 sobre o melhor insulto, do ponto de vista qualitativo, que já recebeu.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Borat was so 2006 - Bruno Trailer

Futurama Ressuscita

Boas notícias para quem lamentou o cancelamento desta série de Matt Groening (criador dos Simpsons), alguns anos atrás. Seis anos depois vai voltar a ser produzida.

Os Pecados do Lobo - Anne Perry


Integrado na excelente colecção de policiais da Gótica "Nocturnos", a acção de "Os Pecados do Lobo", de Anne Perry, desenrola-se na Inglaterra Vitoriana e tem no detective William Monk a sua personagem principal. Monk é abrupto, inconveniente e sarcástico; ao fim e ao cabo, alguém que não é tido na melhor das contas. Mas é também extremamente inteligente e incansável a defender uma causa que considere justa, não hesitando em desrespeitar a maioria dos extremamente rígidos preconceitos sociais da época. Rege-se apenas pelos seus princípios pessoais, sem dar muita importância às consequências que possa sofrer. Embora seja o primeiro que leio, não se trata do primeiro livro da série. As constantes da mesma são um conjunto de personagens comuns e o contexto pessoal de cada uma. Os elementos mais relevantes dos mesmos são facilmente introduzidos (o caso de um anterior despedimento de Monk da Polícia e a amnésia de que sofre). Já o crime investigado neste volume, é autónomo e circunscrito ao mesmo, pelo que não é indispensável ler os volumes anteriores.

A enfermeira Hester Latterly (pertencente ao núcleo de personagens comuns), vê-se acusada do crime de homicídio por envenenamento, de uma sua doente que acompanhava em viagem. Os indícios encontrados apontam fortemente para a sua culpabilidade. Sabendo-se inocente, Hester tem também consciência que apenas um dos membros da família onde a vítima era matriarca, poderia ter tido os meios e oportunidade para cometer o crime, e ainda deixar provas incriminatórias contra si. Recorre à ajuda de Monk, e do advogado Oliver Rathbone, os quais, pelo passado que partilham, acreditam intransigentemente na sua inocência. São os três vértices de um triângulo amoroso subtil, que gera alguns dos momentos mais divertidos do livro.

O livro caracteriza-se essencialmente pela sua capacidade descritiva e pelo tom leve que, embora sem ter pretensões humorísticas explícitas, nos leva a viajar pelo mesmo com um sorriso nos lábios. As personagens, tanto principais como secundárias, estão bem conseguidas. Raramente se limitam a estereótipos. Mesmo as que não são exploradas a um nível mais complexo, conhecemos delas o suficiente para nos transmitir a sensação de que há mais nelas do que um primeiro olhar alcança. Levando o seu tempo a descrever cada uma das etapas da história, o ritmo da trama acaba por sair algo prejudicado. A descrição da estrutura familiar e dos rígidos padrões sociais em meados do séc.XIX é cativante sem ser exaustiva, limitando-se às exigências da história. O papel das mulheres na sociedade e como este se começava lentamente a alterar tem um destaque especial. Na guerra da Crimeia, onde Hester serviu como enfermeira, pela primeira vez as mulheres acederam à profissão de enfermeira por vocação, e não como um trabalho rebaixante reservado para quem esgotou outras alternativas. Neste confronto notabilizou-se a figura de Florence Nightingale, uma personalidade real que chega a ser integrada na história numa homenagem à importância dos seus feitos. Granjeou um respeito profundo dos seus contemporâneos que roçava a adoração, e foi fundamental para uma melhoria drástica dos cuidados de saúde que se prestavam, sobretudo aos mais pobres.

Enquanto tenta descortinar motivos no seio da família da vítima susceptíveis de impelir ao assassinato, Monk acaba muitas vezes em becos sem saída. Os avanços mais significativos na investigação do crime, sucedem numa fase já adiantada do livro. Em resultado disso, os acontecimentos acabam por se precipitar de forma um pouco atabalhoada. É esse twist final que revela as motivações subjacentes ao crime e, embora seja algo forçado e não totalmente surpreendente para quem esteja habituado a este tipo de histórias, não prejudica a sensação de agradabilidade que ler este livro nos transmite.

Os 25 Anos da Taschen (1)

No seguimento de Parabéns Taschen!








Imagens retiradas do livro "Japanese Prints" - Fahr-Becker, Gabriele / Walther, Ingo F.
Hardcover, 24 x 30 cm (9.4 x 11.8 in.), 200 pages
€ 9.99

Para ti,kk

terça-feira, 9 de junho de 2009

Salve-se quem puder

Nunca um programa de televisão em Portugal teve um nome tão apropriado. Nem a Diana Chaves sem som salva aquilo.

Cada macaco no seu galho

Em relação às recentes eleições europeias, e às suas consequências para o rumo da União Europeia, um post de Eduardo Pitta no Da Literatura cuja leitura me angustiou. Talvez gostemos de pensar que, como sociedade, somos melhores do que efectivamente somos. A fotografia que acompanha está bem esgalhada.

Diferença entre defender a lei e a filha-da-putice 2

Primeiro ver Diferença entre defender a lei e a filha-da-putice

Consultando o site da IGAC, temos acesso ao diploma que regula a lei do preço fixo do livro. Esta, no seu artigo 15, nº1, alínea b) estabelece como excepção ao regime da mesma, os livros usados e de bibliófilo, ficando estes isentos.

Uma grande parte dos livros em questão estão em bom estado, mas não deixam de ser usados. Quando entraram no mercado, entraram respeitando a lei. As flutuações nos seus preços aconteceram já após entrarem na esfera de um privado. Caso contrário, nem lhe seria possível praticar preços significativamente mais baixos. Não falamos de um grande grupo económico, com capacidade para comprar a preço de custo. Teve necessariamente de os comprar mais baratos do que os vende. Sei disto porque é apenas lógico, e porque eu próprio já lhe vendi livros. Não tantos quanto os que lhe comprei, mas aconteceu.

A lei parece clara mas talvez haja uma interpretação ou um artigo que me tenha escapado. Afinal de contas, houve lugar a uma coima. Algum motivo a teve de fundamentar, não é?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para o Verão, a minha prenda, eu quero que seja...

Diferença entre defender a lei e a filha-da-putice

A semana passada, visitei o meu vendedor de livros usados favorito a participar numa feira temporária, e fiz o meu avio do mês. Na conversa com esse meu conhecido, soube que tinha recebido uma visita da IGAC devido a uma denúncia por desrespeito da lei do preço fixo (durante os primeiros 18 meses após a sua edição, um livro não pode ser vendido com um desconto superior a 10% do preço de editor. Estão ainda disponíveis um número limitado de dias em que se pode fazer um desconto máximo de 20%, se respeitadas certas circunstâncias.). Desta visita resultou uma coima. Não conheço a lei em concreto e não sei se abrange o mercado de usados. Sei isso sim, que estamos a falar de 1 ou 2 exemplares de cada livro. Os títulos disponíveis são os que calham. Muitas vezes nem se tratam de compras e vendas, mas sim de trocas directas. Sei ainda que existe uma diferença entre alguém bater-se pelas leis concorrenciais do mercado que visam evitar desequilíbrios no mesmo, e a FILHA-DA-PUTICE MESQUINHA E INVEJOSA de quem está de olho em mais meia dúzia de trocos e não tem problemas em prejudicar alguém que faz isto nos fins-de-semana mais por carolice e um pequeno extra que outra coisa. Não se preocupem. Como é honesto, todos os livros nessas condições foram guardados até que tenha certezas sobre se pode vendê-los ou não. Mas tenho uma questão: se comprar um livro que seja uma trampa, e o vender a preço de uva mijona reflectindo a pouca estima que lhe nutro a um amigo antes dos 18 meses, posso ser alvo de coima? E o amigo que mo compre? Malandros...Devíamos ficar proibidos de ler durante 18 meses.

Mais uma vitória para os auto-proclamados guardiões da cultura!

Parabéns Taschen!

A editora fundada por Benedikt Taschen iniciou o seu percurso em 1980. Conhecida mundialmente pela boa relação que consegue estabelecer entre a qualidade das suas obras e o respectivo preço, a Taschen publica actualmente obras sobre áreas tão diversas como arte, fotografia, arquitectura, design, decoração e viagens entre outros. Ao completar 25 anos, lançou uma série comemorativa que reproduz uma grande parte do seu catálogo em edições mais económicas. Passados 4 anos, continuam a ser acrescentados títulos a esta iniciativa. No entanto, muitos dos livros que primeiro a integraram estão já esgotados.

Consegui adquirir uma parte significativa dos livros que me interessavam da mesma, e à semelhança do que fiz no post anterior, vou colocar algumas imagens dos meus favoritos nos próximos tempos deste blog. São para mim, um verdadeiro deleite para os sentidos.

Sugestões 1 - "Olhos nos Olhos"

Enquadrado na série comemorativa dos 25 anos da editora Taschen, foi publicado recentemente o livro "Olhos nos Olhos" de Frans Lanting. Para quem apreciar fotografia da vida animal, é uma excelente oportunidade, porque trata-se de um livro que conjuga uma enorme qualidade com o preço acessível de 15€. A edição portuguesa pode ser encontrada pelo menos na FNAC, Bertrand e Almedina.




domingo, 7 de junho de 2009

A Canção de Kali - Dan Simmons


Robert Luczack é um jornalista americano, que viaja até Calcutá incumbido de redigir um artigo sobre um novo poema que está a intrigar o mundo literário. Consigo viajam também a sua mulher Amrita, e a bebé de ambos, Victoria. Amrita, embora nascida na Índia, não visita o país desde criança. Atribuído ao poeta Das, o poema em questão é controverso. Embora comprovadamente recente, todos os indícios apontam para a morte do seu autor à cerca de dez anos atrás. À medida que investiga a veracidade do manuscrito, Robert descobre estar efectivamente perante o trabalho de Das, mas também que os rumores da sua morte não foram exagerados. O conteúdo deste novo poema diverge do seu trabalho anterior e remete incessantemente, em termos grotescos, para Kali, a deusa da Morte. Preso nesta contradição insanável, o único caminho para descobrir a verdade parece ser através de uma seita conhecida como o culto de Kali, a qual parece ter os seus próprios intentos para o jornalista. Com cada passo que dá, mergulha cada vez mais num emaranhado de crenças que a sua mente lhe dizem impossíveis, mas que sente cada vez mais como reais. Quando encontra finalmente alguém com uma explicação para o ressurgimento de Das, fica hipnotizado enquanto escuta o seu testemunho do que presenciou. Apercebemo-nos que nós também. Essa narrativa dentro da estrutura principal do romance é particularmente bem conseguida e, para mim, o ponto em que o livro me conquistou definitivamente.

A cidade de Calcutá é a personagem principal da história. É a sua natureza que nos transmite uma atmosfera de desconforto que vai em crescendo até atingir um terror palpável. Dan Simmons descreve um lugar maligno; submerso na imundice e miséria. Os prédios encavalitam-se, as pessoas também. Tudo fede permanentemente a uma mescla de lixo, doença e excrementos. Calcutá está para além da salvação, para além de piedade. Nada mais é que uma chaga abjecta na humanidade. Deveria ser varrida da face do planeta por uma violenta explosão; uma nuvem em forma de cogumelo com que Robert chega a sonhar, que expurgasse o mundo inteiro desse mal.

Embora integrando elementos sobrenaturais na história, os verdadeiros contornos dos mesmos nunca são completamente explicitados. Na minha opinião, é essa ambiguidade a grande força do livro. Como nunca sabemos até onde chega o toque de Kali, compreendemos o desespero do protagonista para quem nada é já completamente seguro, e que não sabe como combater algo que está longe de compreender por inteiro. Para quem estiver à espera de uma explicação clara para o como e porquê de tudo o que é descrito na história, pode sentir-se defraudado.

Quanto mais avançamos no livro, mais convictos ficamos de que o seu final será de alguma forma trágico. Esta é uma história sobre o Mal. Não é sobre uma luta entre o Bem e o Mal. Somente sobre o Mal; até onde nos pode inquinar e se é possível preservar um vislumbre de esperança no nosso íntimo. Um outro desfecho não respeitaria a natureza da história.

"A Canção de Kali"
Dan Simmons
Tradução de João Barreiros
Edições Saída de Emergência
Setembro, 2005

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vislumbres 1



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