Ao fazer um intervalo no trabalho, passei os olhos na rtp2. Estava a dar um documentário sobre um campo de concentração alemão, que tem sido mantido como testemunho do que aconteceu. Os visitantes escutam os guias explicarem como funcionava aquele lugar. Os registos de mortes que se dividiam entre os suicídios e as mortes legais. Não havia outro tipo de mortes. Às vezes, os SS executavam alguém a sangue frio. Sem necessidade de um porquê. Atiravam depois o corpo para a vedação, tiravam uma foto para o registo, e pronto, mais um que não aguentou a pressão. Quem é que ia estranhar? Estamos a falar de judeus e afins. Não se pode esperar muito. Quem é que se ia importar? Às vezes, os detidos estavam tão magros, que quando lhes batiam com um bastão de borracha, a pele rasgava. Tudo era tão organizado, tão eficiente. Existia um organograma para dividir os ocupantes em categorias. Os mais susceptíveis de fugir tinham um ponto nas costas. Uma ajuda visual para os guardas. O pior dos piores, era o judeu homossexual. Mas esses não duravam muito. Uma vizinha do campo, conta como viu uma pilha de corpos empilhados quando voltava das compras. Nem se deram ao trabalho de os matar a todos antes. Faz sentido. Optimização de recursos. Faz todo o sentido. Vemos os "duches", os fornos. Vemos os excursionistas questionarem-se como metiam as pessoas no seu interior. Estariam mortos ou vivos; iriam de livre vontade?
Meu Deus! Como é que isto foi possível? Racionalmente sei até onde pode ir a crueldade humana. Sei até onde já foi, pelo menos. Mas ao ver aquilo...Como é que fomos capazes de o fazer, de o permitir. Elie Wiesel, sobrevivente do holocausto e Prémio Nobel da Paz, escreveu uma frase no seu livro "Noite", em que relata as experiências que viveu em dois desses campos:"Eu era o acusador, e Deus o acusado. Com os olhos bem abertos, vejo que estou só - terrivelmente só num mundo sem Deus e sem Homem." É uma boa maneira de pôr as coisas.
Quanto mais o tempo passa, mais necessários parecem estes santuários reconvertidos. Para nos lembrarem do que se passou; para nos subtraírem a possibilidade de esquecer ou relativizar. Confesso que achava um pouco macabra a peregrinação a estes lugares (excepção feita a sobreviventes). Vou vendo as coisas de forma diferente. Os testemunhos que nos foram legados materializam-se ali. Existiu mesmo. Parece coisa pouca, mas pouco mais de 60 anos foram suficientes para surgir o negacionismo destas atrocidades (com um número crescente de adeptos). Ou então, discutem-se os números. Como seis milhões de mortos é claramente exagerado. Na melhor das hipóteses, quatro. E vá lá. Não por rigor histórico. Mas como atenuante. Não foi tão grave assim afinal. Não importa que o único motivo para não ter sido ultrapassada a barreira dos dez milhões; dos vinte milhões, foi alguém tê-los detido. Mas talvez alguns lamentem apenas que os nazis não tenham conseguido acabar o serviço.
No final, um dos responsáveis explica que as aves e os animais não se aproximam do campo. Pode ser do cheiro do crematório, diz. Ele acredita que é porque sentem a morte.
Meu Deus! Como é que isto foi possível? Racionalmente sei até onde pode ir a crueldade humana. Sei até onde já foi, pelo menos. Mas ao ver aquilo...Como é que fomos capazes de o fazer, de o permitir. Elie Wiesel, sobrevivente do holocausto e Prémio Nobel da Paz, escreveu uma frase no seu livro "Noite", em que relata as experiências que viveu em dois desses campos:"Eu era o acusador, e Deus o acusado. Com os olhos bem abertos, vejo que estou só - terrivelmente só num mundo sem Deus e sem Homem." É uma boa maneira de pôr as coisas.
Quanto mais o tempo passa, mais necessários parecem estes santuários reconvertidos. Para nos lembrarem do que se passou; para nos subtraírem a possibilidade de esquecer ou relativizar. Confesso que achava um pouco macabra a peregrinação a estes lugares (excepção feita a sobreviventes). Vou vendo as coisas de forma diferente. Os testemunhos que nos foram legados materializam-se ali. Existiu mesmo. Parece coisa pouca, mas pouco mais de 60 anos foram suficientes para surgir o negacionismo destas atrocidades (com um número crescente de adeptos). Ou então, discutem-se os números. Como seis milhões de mortos é claramente exagerado. Na melhor das hipóteses, quatro. E vá lá. Não por rigor histórico. Mas como atenuante. Não foi tão grave assim afinal. Não importa que o único motivo para não ter sido ultrapassada a barreira dos dez milhões; dos vinte milhões, foi alguém tê-los detido. Mas talvez alguns lamentem apenas que os nazis não tenham conseguido acabar o serviço.
No final, um dos responsáveis explica que as aves e os animais não se aproximam do campo. Pode ser do cheiro do crematório, diz. Ele acredita que é porque sentem a morte.
1 comentário:
Impressionante. Não vi o programa em causa, mas já outros similares e já li algumas coisas sobre o assunto.
Partilho da indignação e creio que nos envergonha como humanos, que tais atrocidades tenham sido cometidas com o consentimento de tantos e sem a oposição de tantos outros...
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