Excertos de Texto publicado na edição da Pública de 31.10.2011
"A verdade é que todas as nossas experiências nos modificam o cérebro, redesenham-nos os circuitos, como se fosse um computador (..) E, quanto mais repetitivas e praticadas forem as nossas acções, mais intenso será esse efeito de plasticidade do cérebro. Os músicos profissionais têm mais matéria cinzenta nas áreas cerebrais relacionadas com o planeamento dos movimentos dos dedos. Os cérebros dos atletas são mais volumosos nas zonas responsáveis por controlar a coordenação entre os olhos e as mãos."
"Mas a descoberta desta plasticidade do cérebro, desta capacidade permanente de se alterar, é algo recente (...). Até então, o que se aceitava era algo que a sabedoria popular traduzia no provérbio "de pequenino se torce o pepino": o cérebro não mudava grande coisa desde a infância. O que não se aprendia em pequenino dificilmente se aprenderia em adulto."
Se alguém aprender a escrever no teclado do computador - sem passar pela aprendizagem à mão -, não vai ter a necessidade de pegar em papel e caneta para tirar dúvidas, como se a mão soubesse mais de ortografia do que o cérebro onde ficam guardadas as memórias e o que aprendemos. (...) gesto ainda hoje corrente, quase um reflexo - tirar notas à mão -, vá desaparecer, mais tarde ou mais cedo."
Nicholas Carr (jornalista de tecnologia norte-americano)
"Não tenho andado a pensar como costumava pensar. Sinto-o sobretudo quando estou a ler. Costumava achar fácil mergulhar num livro ou num artigo longo. A minha mente deixava-se apanhar nas voltas da narrativa ou nas reviravoltas dos argumentos, e passava horas a passear por longas caminhadas de prosa. Hoje é raro fazer isso. Agora a minha concentração começa a vaguear passada uma página ou duas. Começo a mexer-me, perco o fio à meada, começo a procurar outra coisa qualquer para fazer. Sinto que tenho de estar sempre a arrastar o meu cérebro indisciplinado de volta ao texto. A leitura aprofundada que antes me vinha naturalmente tornou-se agora numa luta."
Maryanne Wolf (especialista em dislexia)
"Se a nossa atenção é constantemente distraída, isso influencia a profundidade da leitura, deixamos de conseguir analisar profundamente o que lemos".(...) "A leitura superficial não conduz a uma forma de pensar profunda. E o pensamento superficial não nos leva a uma vida virtuosa, na forma como nos relacionamos com os outros".(...) reconhece não existirem muitos estudos que provem ou desmintam as suas preocupações.
"Um estudo da Universidade do Michigan chegou a uma conclusão bastante preocupante: a empatia, a capacidade de entender uma situação a partir do ponto de vista do outro, diminuiu cerca de 40 por cento entre os estudantes universitários norte-americanos durante os últimos 30 anos. Isto está a passar-se com a geração do Facebook e do Twitter."
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