No passado dia 22 de Outubro, vi a entrevista de Pedro Paixão no Lado B. Fiquei estupefacto. Pensei que o homem não tinha os cinco alqueires bem medidos. Com uma conversa daquelas, ou o homem estava pedrado, ou um consumo continuado de absinto havia finalmente feito estragos irreparáveis aos seus neurónios. Gosto do que li do homem, mas aquilo era para além de estranho, chegando a ser constrangedor (não apenas para o expectador, mas também para os presentes).
Descobri entretanto que Pedro Paixão padece de doença bipolar, diagnosticada aos 19 anos, o que explica, pelo menos parcialmente, um comportamento tão peculiar. E se digo pelo menos parcialmente, é porque existem muitas pessoas diagnosticadas com esta doença que fazem a sua vida de forma perfeitamente ordinária. Desconheço a gravidade do caso concreto, e nunca vi sequer outras presenças do autor em televisão para saber se é recorrente este comportamento. Pode simplesmente ter-se esquecido de tomar o medicamento (sem sarcasmos, em muitos casos nota-se logo). O desconhecimento de determinada informação pode ser o bastante para condicionar as conclusões a que chegamos. Por este motivo, não consigo ter uma opinião definida se estamos perante uma prova de coragem de alguém que quer viver a sua vida normalmente, ou se aproveitamento por parte de quem o recebe (neste caso pareceu-me que não; Bruno Nogueira foi precisamente quem mais constrangido me pareceu). Pode até tratar-se de ambas ou nenhuma das hipóteses enunciadas.
De qualquer forma, do ponto de vista da opinião pública, é sempre positivo que personalidades que se destaquem em áreas mediáticas assumam e partilhem a sua convivência com esta doença (muito mais disseminada do que se possa pensar), contribuíndo para a desmistificar aos olhos de todos, incluindo os próprios doentes.
Num testemunho para uma colectânea da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, o escritor descreveu "o pólo depressivo da sua doença de modo existencial e quase clínico":
“ O tempo aparece como uma massa informe, pegajosa, impenetrável, porque o sentido que podia ordenar se ausentou, fez greve, sumiu. Ora, não havendo futuro, não há passado nem presente, não há nada. As sinapses dos meus neurónios mandaram-me passear”
O autor foi um dos 3 casos abordados na reportagem da SIC, Mentes Inquietas, emitida em 2009.
"Em Portugal, há mais de 100 mil pessoas que sofrem de algum tipo de distúrbio bipolar; uma perturbação psíquica que se caracteriza por oscilações acentuadas do humor com crises repetidas de depressão e de euforia. Cada um dos doentes tem uma forma particular de manifestar a bipolaridade e de reagir ao diagnóstico, à terapeutica e ao estigma."
"A vida de 3 pessoas que sofrem de doença bipolar Pedro Paixão tinha 19 anos quando lhe foi diagnosticada a doença maniaco-depressiva. Em 1976, era esta a designação da doença bipolar. Só aos 30 anos, é que o então professor universitário de Filosofia, começou a ser acompanhado regularmente por um psiquiatra e aderiu à terapeutica. Hoje, o escritor - que abandonou a vida académica em 2005 por causa da doença - garante que aprendeu a lidar melhor com os seus humores."
2 comentários:
Alexandria, enquanto leitor do Pedro Paixão, e já o tendo visto e ouvido em várias entrevistas, queria dizer que ele é assim mesmo... Não digo que seja o protótipo do que deve ser um convidado num programa, mas, em comparação com outras entrevistas, acho até esta muito razoável... (Atendendo aos aspectos que te referias)
Eu sou suspeito, pois até gosto de o ler. Quanto a ouvi-lo, tem-se de facto que saber com o que se conta... (Risos...)
Encontrei por acaso este post enquanto procurava a reportagem, Mentes inquietas.
Só posso dizer que ou o autor do blogue agarrou na questão ao contrário, ironizando sobre o vazio dos que não percebem nada de nada sobre doenças com que é fácil brincar. Ou então se apercebeu perfeitamente que às perguntas realmente sérias, houve respostas igualmente sérias. Sem fuga.
De outra forma, este é um belíssimo post a ilustrar que os que pensam que pensam, talvez não saibam pensar assim tão bem.
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