terça-feira, 30 de novembro de 2010

A compra (única) do mês


  The editor-in-chief of The Washington Post recounts his life and career in journalism, from his early friendship with Senator John F. Kennedy to his famous role in the Watergate investigation.

  Usado, em bom estado, foi a primeira compra que fiz pelo Play.com (3,14€ e com portes grátis). Vale a pena dar uma vista de olhos.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Somos o Esquecimento que Seremos - Hector Abad Faciolince


  Somos o Esquecimento que Seremos é uma revisitação da relação de Hector Abad Faciolince com o seu pai. Únicos homens numa casa de mulheres, Hector Abad Gomez e o filho cedo estabeleceram uma ligação próxima. Um médico que dedicou a quase totalidade da sua vida a tentar transformar o seu país num lugar melhor (acabando por pagar com a própria vida essa escolha), Abad foi a figura de referência no crescimento do filho. Apologista de que o amor deve ser a base de toda a educação (postura encarada como permissiva na altura), é-nos descrito como essa convicção moldou a personalidade do autor. A sua postura cívica desde cedo lhe valeu o rótulo de indesejável em vários sectores, numa Colômbia que começava a resvalar para uma situação de conflito e violência constantes. 

  Parte carta de amor aquele que foi o seu ídolo de toda a vida; parte testemunho do trabalho deste em prol dos direitos humanos, este livro demorou vinte anos a ser escrito. Foi esse o tempo que o autor precisou para colocar em palavras todo um tumulto de emoções e recordações, tanto as ternas como as amargas, em palavras. Sem cair num tom melodramático que queria a todo o custo evitar, a sua escrita é desarmante de tão simples. Transmite a nobreza de carácter do seu pai, sem no entanto esconder o excessivo lirismo de que frequentemente padecia. Partilha connosco as perdas que moldaram a sua família, deixando dolorosamente presente como algumas feridas nunca sararam, nada mais restando senão aprender a viver com a dor infligida. Na fase final do livro, de cariz mais factual, é assustadora a percepção que adquirimos de quão pouco podia valer a vida na Colômbia, sendo o assassinato dos que se opunham às forças governamentais natural e metódico. Mesmo sabendo o que lhes estava reservado, muitos houve que continuaram a lutar pelo acreditavam ser correcto. Abad Faciolince Abad, ainda que a achando para além de si, admira e consagra por escrito essa coragem.

  Caracterizado na sua sinopse como "um livro de grande coragem", esta qualificação não podia ser mais adequada para uma obra que expõe tanto do seu autor, e o obriga a lidar com os seus fantasmas pessoais. Escrito pelas regras de um romance, este título que deve o seu nome a um verso de Borges, foi recentemente reeditado pela Quetzal.

Classificação: 9/10

Título: Somos o Esquecimento que Seremos
Autor: Hector Abad Faciolince
Tradução: Margarida Amado Acosta
Editor: Quetzal
Páginas: 336

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Capas que ficam na retina (3)

Colleen McCullough x2

  Colleen McCullough regressa ao mercado editorial português em dose dupla. A Independência de uma mulher, um spin-off de Orgulho e Preconceito, foi editado pela Bertrand em Outubro. E agora, é o detective Carmine Delmonico quem regressa pela mão da Difel (habitual editora da obra da autora em Portugal), em O Dia de Todos os Pecados, sequela de Um Passo à Frente.




"A Independência de uma Mulher"
Edição: 2010
Páginas: 384
Editor: Bertrand Editora
"Toda a gente conhece a história de Elizabeth Bennet, que se casou com Mr. Darcy em Orgulho e Preconceito. Mas o que aconteceu a Mary, a sua irmã?
Todas as irmãs de Mary conquistaram o seu destino: Jane tem um casamento feliz e uma grande família; Lizzie e Mr. Darcy ganharam uma extraordinária reputação social; Lydia conquistou uma reputação bem diferente; e Kitty é requisitada pelos salões mais luxuosos de Londres. Mary, por outro lado, é uma mulher transformada, agora independente de obrigações familiares. Decide escrever um livro onde põe a nu os males do seu país e o drama dos pobres. Mas as suas viagens de pesquisa irão colocar em risco a sua própria vida - e acabarão por lançá-la nos braços do homem que a inspirou.
Da brilhante escritora Colleen McCullough, autora de
Pássaros Feridos, um livro de aventuras e romance, em que uma mulher forte e independente deixa a sua marca no mundo."



  "O Dia de Todos os Pecados"
Edição: 2010
Páginas: 400
Editor: Difel
 "O ano é o de 1967. A Guerra Fria avança, imparável, e o mundo encontra-se à beira do holocausto nuclear. Num bonito dia de Primavera, na cidadezinha de Holloman, Connecticut, onde fica a Universidade Chubb e a Cornucopia, gigante dos armamentos, o chefe dos detectives, capitão Carmine Delmonico, tem preocupações mais urgentes do que arranjar um nome para o seu filho recém-nascido: deram-se doze homicídios num só dia e Delmonico é arrastado para uma sinistra teia de segredos e mentiras.
Com o apoio dos detectives sargentos Abe Goldberg e Corey Marshall e da meticulosa Delia Carstairs, o novo membro da equipa, Delmonico envolve-se no que parece ser um mistério insolúvel. Os homicídios são todos diferentes e não parecem ter qualquer relação entre si. Estarão na presença de um ou de muitos assassinos? E como se doze homicídios não chegassem, Carmine não tarda a ver-se a braços com o misterioso Ulisses, um espião que entrega aos russos os segredos das armas da Cornucopia. Os homicídios e a espionagem são casos diferentes ou estão ligados?
Quando Ted Kelly, agente especial do FBI, se junta à investigação, parece que o que está em jogo é muito mais do que alguém imaginara e que o homicídio é apenas uma peça do quebra-cabeças de crimes que provocou o pânico em Holloman. Enquanto a sobrecarregada polícia enfrenta as politiquices próprias de uma cidade pequena, a rivalidade académica e a avidez empresarial, o número de mortes aumenta e Carmine e a sua equipa descobrem que as respostas não são o que parecem... Mas alguma vez o serão?
Mais uma vez demonstrando que é mestre em
suspense, a autora de best-sellers Colleen McCullough regressa com uma empolgante sequela de Um Passo À Frente." 

Negócios de ocasião - Winston Churchill


  Para quem tiver interesse na vida de Winston Churchill ao ponto de ler 726 páginas, é aproveitar a promoção de 40% desconto na FNAC online até dia 25 (24,80€ ao invés de 41,34€):

  Foi um dos mais admirados homens políticos do século XX. Mas não era um político de convergências, era antes um radical. Controverso e sem papas na língua, suscitava tanto a admiração como o ódio. Os de esquerda criticavam-lhe a sua tomada de posição contra a revolução soviética, ou a oposição à independência da Índia, enquanto os de direita criticavam o seu antinazismo desde a primeira hora, ou, mais tarde, o apoio a Estaline e a Tito. Mas o seu papel na segunda Grande Guerra foi fundamental, como afirmou De Gaulle: "Winston Churchill impôs-se do princípio ao fim do drama, como o grande campeão de um grande empreendimento e o grande artista de uma grande História." Mas o seu papel político doméstico também foi fundamental. O seu nome está associado a grandes reformas: Serviço Nacional de Saúde, seguros de desemprego, reforma das prisões, pensão para viúvas e órfãos, participação dos empregados nos lucros das empresas, etc. Martin Gilbert, autor desta biografia (a mais aclamada de Churchill), define-o, por isso, assim: "Um verdadeiro crente na necessidade de o Estado tomar parte activa, tanto por meio da legislação como financeiramente, na garantia de padrões mínimos de vida, trabalho e bem estar social para todos os cidadãos." 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os livros que não ando a comprar

  Para quem gosta tanto de falar dos livros que compra, dou por mim a falar nos que não comprei. Registei durante o mês de Outubro melhoras notáveis na minha condição de comprador inveterado (em grande parte uma escolha estimulada pelas medidas de contenção que o momento aconselha, mas reclamo de qualquer forma a minha parte do mérito). E quando não se está inebriado pelos novos meninos dos nossos olhos, partimos à redescoberta da nossa biblioteca residente. Qual formiga a preparar-se para o Inverno, fomos acumulando livros e mais livros, como quem salva os últimos representantes de uma espécie em vias de extinção. Por entre os bons negócios que não se podiam perder; a prenda que alguém que nos conhece bem nos deu; e os livros que nos convencemos que haveríamos de querer ler na esperança de ser uma obra-prima, acabamos por encontrar a próxima leitura perfeita. Para quem já tiver acumulado umas boas centenas ou milhares de livros, é certo que uma boa parte dos mesmos estará por ler. É então como mergulhar, em simultâneo, na nossa própria biblioteca, livraria e alfarrabista. O nosso bem mais precioso.

  Como me portei bem, acabei por me oferecer um pequeno mimo: "Manhattan Transfer" de John dos Passos (Presença). Mas com 40% desconto e portes grátis, quem nunca pecou que atire a primeira pedra.

domingo, 14 de novembro de 2010

Maravilhas do casamento...

"É mesmo o teu gato...até ressona."

Citações favoritas de Oscar Wilde


"Always forgive your enemies; nothing annoys them so much."

"One should always play fairly when one has the winning cards."

"I can resist anything but temptation."
"Experience is the name everyone gives to their mistakes."
"A little sincerity is a dangerous thing, and a great deal of it is absolutely fatal."

Para quem tiver curiosidade em conhecer mais citações do autor, é só seguir o link.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde


  Dorian Gray é um jovem de feições extremamente belas, em quem o pintor Basil Hallward encontra a inspiração para realizar a sua melhor obra. Mais do que inspiração, Basil encontra em Dorian um objecto de verdadeiro fascínio. Mas apesar da devoção que lhe é dedicada por Basil, até conhecer o amigo deste, Lord Henry Bottom, Dorian não tem noção da real extensão do seu encanto. Os comentários acintosos de Lord Henry, para além de o despertarem para a sua perfeição física, plantam em si a semente de que na vida nada mais importa do que a beleza e o prazer. O típico dandy, Lord Henry é um cínico, apreciador dos prazeres mundanos e apologista apenas dos valores que sirvam os seus interesses. Teme o enfado acima de tudo, e Dorian Gray, enquanto cobaia psicológica para os seus jogos, providencia precisamente a diversão adequada a evitar essa maleita.

  Quanto mais reflecte sobre a sua beleza, mais Dorian mergulha num caminho de narcisismo. Com a sua beleza, aliada à sua condição privilegiada na sociedade, nada está fora do seu alcance. E quando numa resposta inexplicável a um seu desabafo do desejo de permanecer jovem para sempre, se apercebe que a obra-prima de Basil, um retrato que pintou de si, começa a envelhecer em seu lugar, vislumbra um leque de novas possibilidades. Não haverão rugas de preocupação, tristeza, ou os simples sinais do envelhecimento. Mais do que isso, o quadro parece ter-se tornado um espelho da sua própria alma. As consequências das escolhas que efectuar reflectir-se-ão neste, e não em si. Perante a escolha de o utilizar como uma forma de vigiar a integridade da sua alma, ou um instrumento que possibilite uma absoluta impunidade, opta por esta última. Guiado pelo pecado da vaidade, dedica-se a explorar exaustivamente todas as possibilidades que a vida oferece, embarcando num conjunto de comportamentos sórdidos. Mas nem por isso se torna completamente indiferente à opinião social, pelo que o procura fazer de forma discreta. Esses comportamentos, que resultam numa influência corruptora para quem o rodeia,  nunca nos são completamente descritos, mas sobretudo sugestionados. Com a reincidência, começam a surgir boatos sobre o seu estilo de vida, e de como vendeu a sua alma ao diabo a troco da eterna juventude.
  Oscar Wilde não nos apresenta o percurso da personagem como algo de inevitável. Existe uma escolha (parte consciente, parte inconsciente), do destino a dar à sua vida. Se por um lado as perspectivas do mundo de Lord Henry são um verdadeiro canto da sereia, a Basil (que acalenta sentimentos por Dorian que vão além da amizade), crente numa beleza interior de Dorian tão grande como a exterior, cabe o papel de sua consciência. Quando a estória encontra o seu desfecho (que não desilude), descobrimos finalmente se o destino reservado ao protagonista será trágico, redentor, ou simplesmente a impunidade. O final comporta uma moral, mas que irá variar de leitor para leitor, consoante o tipo de pessoa que seja. Era esta a convicção do próprio autor.

  Irlandês de nascimento, Oscar Wilde (1854-1900) viveu em plena era vitoriana e destacou-se no panorama cultural londrino sobretudo pela sua obra como dramaturgo e poeta. Para além da sua obra, seria recordado pela sua homossexualidade, exposta publicamente num processo que conduziu ao seu encarceramento, e que em muito contribuiu para a sua prematura morte. Integrante do movimento estético a determinado ponto, faz em O Retrato de Dorian Gray (o único romance que escreveu), um tratado sobre a importância da aparência na sociedade, e no confronto entre estética e ética qual deve ser preponderante. Foi na época alvo de crítica em razão de alguns dos comportamentos que a história incluía, considerados debochados. A sua escrita é muito visual (provavelmente devido à sua formação teatral), e toma grande atenção à descrição dos pormenores, sobretudo das coisas belas. A espaços, pode ser algo desmotivador, como quando enumera os diferentes interesses que o seu protagonista vai tendo (ourivesaria, roupa, entre outros). Trata-se de uma leitura agradável, que ainda hoje estimula a reflexão, mas que inevitavelmente perde uma significativa parte do seu impacto em razão de um background cultural e social  que é hoje completamente diferente.

Classificação: 7,5/10 - Consegue explorar a interrogação se a beleza é uma benção ou uma maldição, sem deixar de criar uma obra de ficção envolvente.

"Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo."
                                            Oscar Wilde 

Título: O Retrato de Dorian Gray
Original: The Picture of  Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Tradução: Maria de Lourdes Sousa Ruivo
Biblioteca Visão, 2000
Páginas: 256

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Capas que ficam na retina (2) - O serial-killer invisual


  Divertidíssimo romance policial, que segue as aventuras e desventuras do primeiro serial-killer invisual da história. Gabriel Saviela é cego e passou toda a sua vida a ser humilhado pela mãe, que decide assassinar dando os restos mortais desta a comer ao seu cão - depois matou o periquito. Isso constituirá o início de uma série de mortes atrozes e aventuras rocambolescas… 

O Capitão das Sardinhas de Manuel Manzano - Ulisseia 2010

Gosto do pormenor de ser o periquito a segunda vítima...

Os livros que andam connosco

  
   "Os livros que nos interessam mesmo, que não somos capazes de deixar no quarto ou na sala - ou mesmo em casa - são aqueles que transportamos connosco para toda a parte.
  Ao contrário dos livros de cabeceira e dos livros que espalhamos por aí, o livro andarilho tende a ser só um. É o livro dilecto do momento, aquele de que não nos conseguimos separar. Nos inquéritos de jornal, em vez dos livros de cabeceira, é essa a pergunta que se deveria fazer: qual é o livro que agora anda consigo?"

Miguel Esteves Cardoso, Ainda Ontem - Público, Domingo 7 Novembro 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Debaixo d'olho Outubro (4) - Criticado por muitos, comprado por mais ainda


  Conotado por diversas vezes com as cenas de sexo mais ridículas da literatura portuguesa actual, e alvo do desdém abertamente assumido de grande parte da crítica, a verdade é que o homem lá vai escrevendo e vendendo livros com fartura. Ainda não li nenhum livro de José Rodrigues dos Santos, sendo que A Filha do Capitão se encontra em lista de espera. Mas esta crítica de Eduardo Pitta ao seu mais recente romance, Anjo Branco, aguçou-me a curiosidade.

  Para a posteridade, o autor já deixou uma frase (Codex 632) que não está ao alcance de qualquer um:

  “Quero fazer uma sopa de peixe com o leite das minhas mamas.”

Nível de interesse: Muito Elevado

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um burro, mesmo velho, aprende sempre novas línguas

  A integração da internet no nosso dia-a-dia está a influenciar a nossa forma de escrever e ler. Pelo menos é o que alguns estudos indicam:

Excertos de Texto publicado na edição da Pública de 31.10.2011

  "A verdade é que todas as nossas experiências nos modificam o cérebro, redesenham-nos os circuitos, como se fosse um computador (..) E, quanto mais repetitivas e praticadas forem as nossas acções, mais intenso será esse efeito de plasticidade do cérebro. Os músicos profissionais têm mais matéria cinzenta nas áreas cerebrais relacionadas com o planeamento dos movimentos dos dedos. Os cérebros dos atletas são mais volumosos nas zonas responsáveis por controlar a coordenação entre os olhos e as mãos."

  "Mas a descoberta desta plasticidade do cérebro, desta capacidade permanente de se alterar, é algo recente (...). Até então, o que se aceitava era algo que a sabedoria popular traduzia no provérbio "de pequenino se torce o pepino": o cérebro não mudava grande coisa desde a infância. O que não se aprendia em pequenino dificilmente se aprenderia em adulto."

   Se alguém aprender a escrever no teclado do computador - sem passar pela aprendizagem à mão -, não vai ter a necessidade de pegar em papel e caneta para tirar dúvidas, como se a mão soubesse mais de ortografia do que o cérebro onde ficam guardadas as memórias e o que aprendemos. (...) gesto ainda hoje corrente, quase um reflexo - tirar notas à mão -, vá desaparecer, mais tarde ou mais cedo."

   Nicholas Carr  (jornalista de tecnologia norte-americano) 

  "Não tenho andado a pensar como costumava pensar. Sinto-o sobretudo quando estou a ler. Costumava achar fácil mergulhar num livro ou num artigo longo. A minha mente deixava-se apanhar nas voltas da narrativa ou nas reviravoltas dos argumentos, e passava horas a passear por longas caminhadas de prosa. Hoje é raro fazer isso. Agora a minha concentração começa a vaguear passada uma página ou duas.  Começo a mexer-me, perco o fio à meada, começo a procurar outra coisa qualquer para fazer. Sinto que tenho de estar sempre a arrastar o meu cérebro indisciplinado de volta ao texto. A leitura aprofundada que antes me vinha naturalmente tornou-se agora numa luta." 

  Maryanne Wolf (especialista em dislexia)

  "Se a nossa atenção é constantemente distraída, isso influencia a profundidade da leitura, deixamos de conseguir analisar profundamente o que lemos".(...) "A leitura superficial não conduz a uma forma de pensar profunda. E o pensamento superficial não nos leva a uma vida virtuosa, na forma como nos relacionamos com os outros".(...) reconhece não existirem muitos estudos que provem ou desmintam as suas preocupações.

   "Um estudo da Universidade do Michigan chegou a uma conclusão bastante preocupante: a empatia, a capacidade de entender uma situação a partir do ponto de vista do outro, diminuiu cerca de 40 por cento entre os estudantes universitários norte-americanos durante os últimos 30 anos. Isto está a passar-se com a geração do Facebook e do Twitter."

Parabéns merecidos

  Ainda que com alguns dias de atraso, aqui ficam os merecidos parabéns ao Porta-Livros (um dos meus blogs de livros favoritos), pelo seu melhor mês de sempre em termos de visitas. Isto a 27 de Outubro. Fico com curiosidade de conhecer os números finais, e que o Porta-Livros continue por muitos e bons anos, pois pelos vistos não falta quem o aprecie. 

  Parabéns Rui Azeredo!

Debaixo d'olho Outubro (3) - Quando a fome se junta à vontade de comer


Três razões tornam O Homem do Castelo Alto numa tentação praticamente irresistível para mim:
1. É escrito por Philip K. Dick, autor com algumas das idéias mais criativas que já vi, mas igualmente inventivo na forma como as desenvolve.
2. Aborda a temática da II Guerra Mundial, um dos meus temas de eleição.
3. Fá-lo explorando a possibilidade de um desfecho diferente do real (embora existam outras obras que o façam, como por exemplo Pátria de Robert Harris).

Como o preço não é nada meigo (18,85€, 288 pág.), vai ter de esperar um pouco. Ou em alternativa, ser comprado em inglês.

Nível de interesse: Muito Elevado

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Debaixo d'olho Outubro (2) - Eduardo Mendoza


  De Eduardo Mendoza li "O mistério da cripta assombrada" e "O labirinto das azeitonas" (editados em Portugal pela Casa das Letras), e achei ambos hilariantes. O autor recorre a um humor que consegue ser simultaneamente inteligente (na forma como a sua escrita nos faz avançar na estória), e tresloucado (nos pressupostos que nos apresenta, e nas circunstâncias que engendra). O herói comum a ambos é um psicopata internado (cujo nome nunca nos é revelado), que é "requisitado" pelo comissário Flores para missões que requerem os seus talentos especiais. Mais do que a curiosidade que "A assombrosa viagem de Pompónio Flato" me suscita em concreto, o que eu realmente quero é conhecer mais da obra de Mendoza.

  O escritor catalão Eduardo Mendoza é o vencedor do Premio Planeta 2010, atribuído pelo grupo editorial espanhol Planeta ao romance sobre a Guerra Civil de Espanha «Riña de gatos», que escreveu sob o pseudónimo de Ricardo Medina.

Nível de interesse: Elevado

Capas que ficam na retina (1)


O livro não me desperta interesse, mas a fotografia foi bem escolhida.
 Será que o maestro se inspirou em Dali?

 

D. Amélia - Isabel Stilwell


  Isabel Stilwell recria neste romance a vida da última rainha de Portugal, D. Amélia (1865-1951). Cobrindo a totalidade da sua vida, e predominantemente através da perspectiva pessoal da própria Amélia, o livro tem particular incidência sobre o período do seu crescimento em França (após o regresso familiar do exílio inglês), e os anos de casamento com D. Carlos. De forma mais sucinta, refere igualmente o período subsequente ao regicídio, que haveria de culminar em novo exílio (realidade que marcou a sua vida), e que a acompanhou até à sua morte.

  Através das suas vivências contactamos com um período tumultuoso da história europeia, no que ao término ou sobrevivência de monarquias se refere. Primeiro, com o clã Orleães, quando o seu pai regressa a França na esperança de reinstituir a monarquia que havia terminado com o seu avô, ensejo que nunca alcançaria. É com Amélia, a filha mais velha, que o Conde de Paris partilha as suas convicções e visões para o futuro de França, sobre a égide de uma monarquia constitucional. É com Luís Filipe que Amélia forma a convicção do que um rei deve ser, sempre tendo como fundamental a noção de dever para com o seu povo. Acompanhamos a sua infância, de uma criança séria e contida, sempre preocupada com o que é esperado de si, e decidida a não desapontar o seu ídolo, o pai. Com uma família unida (facto a que não era alheia uma propensão pelo casamento com primos direitos), é difícil a D. Amélia deixar para trás tudo o conheceu quando chega o momento do seu casamento.

  A sua nova vida tem início aquando do seu casamento com o príncipe herdeiro de Portugal, de seu garboso nome Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Saxe-Coburgo-Gotha, a partir do qual o nosso país seria a sua nova pátria. Apesar de uma aliança entre duas casas reais, este casamento foi também um casamento por amor. As elevadas expectativas que tinha para uma vida em comum foram inicialmente cumpridas, talvez mesmo excedidas. Mas o passar dos anos haveria de trazer um fosso crescente entre ambos, à medida que deixava de reconhecer o Carlos que conhecera e pelo qual se apaixonara, fraco perante os prazeres da vida, e negligente face às necessidades do povo. Não que D. Carlos tivesse apenas defeitos. Mas os seus dotes (nomeadamente diplomáticos) eram largamente superados pelas suas falhas. Acompanhamos a ascensão de Carlos ao trono após a morte do seu pai; a forma como a sua sogra, D.Maria Pia, se vingava no erário público das humilhações públicas a que era sujeita pelo marido; o nascimento e infância dos princípes herdeiros; e como a sua forte noção de dever se materializou numa impressionante, sobretudo para a época, obra social que visava a melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos. Conhecemos ainda o clima e os sinais que precederam a instauração da república no nosso país.

  As convicções de D. Amélia, ainda que sólidas, acabaram por sofrer a erosão de uma vida atravessada por dificuldades. Carlos, foi um marido desrespeitador, e que menosprezava aquele que podia ser o seu contributo para o seu reinado, mas a quem apesar de tudo amava. Mais preocupado com o prazer do que com o país, D.Amélia vivia no receio que os filhos seguissem o seu exemplo. Empenhou-se então em preparar o filho para ser o melhor rei possível, e um regente de que se pudesse orgulhar. Quando este lhe é roubado, desaparece com ele a sua razão de viver. D. Amélia sentia que o seu povo nunca a chegou a amar, apesar do seu esforço, e que via em si, e na sua família, apenas gente que espoliava o país de preciosos recursos financeiros sem em nada retribuir. D. Amélia é-nos apresentada como alguém de extrema dignidade, que foi-se tornando uma mulher amargurada e descrente, com a sua existência trespassada pelo adágio que um dia ouviu a uma tia: "a felicidade cobra sempre o seu preço".

  A autora consegue captar a essência de uma mulher nobre (em ambos os sentidos), mas que foi preparada para um mundo que rapidamente desaparecia. O seu colar de 671 pérolas, cada uma representativa de um dos bons momentos que viveu em Portugal. Voltou a Portugal uma única vez após o exílio (a convite de Salazar a quem muito admirava), em 1945.

  Isabel Stilwell, conhecida sobretudo pelo seu trabalho como jornalista (foi directora da Notícias Magazine), tem-se firmado nos últimos anos como autora de romances históricos: Filipa de Lencastre e Catarina de Bragança, igualmente sobre a vida de raínhas. As fotos que Isabel Stilwell incorpora no livro aumentam significativamente o seu impacto, na medida que temos uma consciência mais apurada de como o que estamos a ler teve uma base real. Muitas das cartas reproduzidas no livro são reais, já não sucedendo o mesmo com os diários, embora a autora se tenha baseado nos originais. A escrita de Stilwell é cuidada, mas perfeitamente acessível. Embora não seja um livro barato, dificelmente damos o nosso dinheiro por mal empregue.

Classificação: 9/10 - O livro consegue cumprir de forma sublime o objectivo a que se propõe.

Autora: Isabel Stilwell
Editora: Esfera dos Livros
Edição: Março 2010
Páginas: 554
Preço: 22€


Lado B outra vez

"Dois homens foram detidos por assaltarem a caixa de esmolas de uma igreja (...), ou como os padres dizem: o dinheiro para a vaselina."


Lado B, com Bruno Nogueira, 22 Outubro, RTP

O lado B de Pedro Paixão



  No passado dia 22 de Outubro, vi a entrevista de Pedro Paixão no Lado B. Fiquei estupefacto. Pensei que o homem não tinha os cinco alqueires bem medidos. Com uma conversa daquelas, ou o homem estava pedrado, ou um consumo continuado de absinto havia finalmente feito estragos irreparáveis aos seus neurónios. Gosto do que li do homem, mas aquilo era para além de estranho, chegando a ser constrangedor (não apenas para o expectador, mas também para os presentes).

  Descobri entretanto que Pedro Paixão padece de doença bipolar, diagnosticada aos 19 anos, o que explica, pelo menos parcialmente, um comportamento tão peculiar. E se digo pelo menos parcialmente, é porque existem muitas pessoas diagnosticadas com esta doença que fazem a sua vida de forma perfeitamente ordinária. Desconheço a gravidade do caso concreto, e nunca vi sequer outras presenças do autor em televisão para saber se é recorrente este comportamento. Pode simplesmente ter-se esquecido de tomar o medicamento (sem sarcasmos, em muitos casos nota-se logo). O desconhecimento de determinada informação pode ser o bastante para condicionar as conclusões a que chegamos. Por este motivo, não consigo ter uma opinião definida se estamos perante uma prova de coragem de alguém que quer viver a sua vida normalmente, ou se aproveitamento por parte de quem o recebe (neste caso pareceu-me que não; Bruno Nogueira foi precisamente quem mais constrangido me pareceu). Pode até tratar-se de ambas ou nenhuma das hipóteses enunciadas. 

  De qualquer forma, do ponto de vista da opinião pública, é sempre positivo que personalidades que se destaquem em áreas mediáticas assumam e partilhem a sua convivência com esta doença (muito mais disseminada do que se possa pensar), contribuíndo para a desmistificar aos olhos de todos, incluindo os próprios doentes.

  Num testemunho para uma colectânea da Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, o escritor descreveu "o pólo depressivo da sua doença de modo existencial e quase clínico":

  “ O tempo aparece como uma massa informe, pegajosa, impenetrável, porque o sentido que podia ordenar se ausentou, fez greve, sumiu. Ora, não havendo futuro, não há passado nem presente, não há nada. As sinapses dos meus neurónios mandaram-me passear”

  O autor foi um dos 3 casos abordados na reportagem da SIC, Mentes Inquietas, emitida em 2009.



  "Em Portugal, há mais de 100 mil pessoas que sofrem de algum tipo de distúrbio bipolar; uma perturbação psíquica que se caracteriza por oscilações acentuadas do humor com crises repetidas de depressão e de euforia. Cada um dos doentes tem uma forma particular de manifestar a bipolaridade e de reagir ao diagnóstico, à terapeutica e ao estigma."

  "A vida de 3 pessoas que sofrem de doença bipolar Pedro Paixão tinha 19 anos quando lhe foi diagnosticada a doença maniaco-depressiva. Em 1976, era esta a designação da doença bipolar. Só aos 30 anos, é que o então professor universitário de Filosofia, começou a ser acompanhado regularmente por um psiquiatra e aderiu à terapeutica. Hoje, o escritor - que abandonou a vida académica em 2005 por causa da doença - garante que aprendeu a lidar melhor com os seus humores."

Entrevista a Carlos Moreno

  Se ontem falava do livro Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro, nem de propósito o seu autor, o  juiz-conselheiro do Tribunal de Contas jubilado Carlos Moreno, dá uma entrevista ao Público de hoje:

- Perfil;
- “Ninguém sabe quanto dinheiro deve o Estado";
- "Estão em curso renegociações nas Estradas que serão escandalosas";
- "As parcerias público-privadas não são recomendáveis".

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Debaixo d'olho Outubro (1) - Mas em tempo de crise arrisco-me a ficar indisposto...


Os Donos de Portugal - Um trabalho conjunto sobre como certos clãs familiares têm concentrado em si uma significativa parte da riqueza de Portugal. As uniões através de casamentos e os negócios que permitiram a rápida recuperação de alguns empresários após um 25 de Abril que muito os penalizou, são algumas das temáticas abordadas no livro. Fruto de uma investigação por pessoas assumidamente de esquerda, desde logo sofreu a crítica de parcialidade e propaganda, embora muitos dos que a fizeram assumam que a façam por presunção. Prefiro encará-lo como uma perspectiva, posteriormente sujeita ao senso crítico de cada um.

Quem são os donos de Portugal? - texto no Arrastão  

Nível de interesse: Moderado

Um livro que analisa as opções em que o Estado gasta, e muitas vezes desperdiça, os recursos obtidos através de impostos. Uma discussão adequada face ao contexto político-económico actual, precisamente por esse motivo pode ser propício a provocar-me azia. E em época de vacas magras, vai provavelmente ficar para segundo plano. Como não posso controlar a forma como o Estado gasta o nosso dinheiro, tenho de me cingir a como gasto o meu.

Nível de interesse: Moderado

Alexandria reinaugurado


O Benfica tem a Vitória para assinalar efemérides, o Alexandria tem a Maria.