O meu nome é Gomes, e sou um bibliófilo assumido. Andava tão direitinho... Não comprava um livro desde 18 de Junho. No sábado, ia comemorar os meus 30 dias. Uma marca que não atinjo, pelo menos desde Novembro. 30 dias! E eis que hoje, ao mudar de linhas no Marquês, me desgracei da vida. Ao passar por uma daquelas feiras do livro que aparecem em algumas estações de metro, e em que normalmente já nem me dou ao trabalho de entrar, uma capa puxou-me a vista. Hora maldita, já se viu. A maioria da feira corresponde à pobreza franciscana que já conhecia. Mas tinha alguns livros da Bertrand, Quetzal e Ambar, que não esperava encontrar. Escolhi quatro, a 5€ cada. Prestes a pagar, avisam-me da promoção: em cada três livros, o mais barato é oferta. Enfim, o resultado final vem ilustrado já a seguir. Tudo pela redonda quantia de 20€. O que também vi lá, mas não comprei porque já os tenho, foram alguns títulos do autor indonésio Pramoedya Ananta Toer. Se passarem por lá, e só puderem comprar um livro, que seja um deste senhor. Não se vão arrepender.
A Judia - Edgarda Ferri (Quetzal)
Poder e influência, peregrinação e promessa de uma mulher extraordinária, no cenário das perseguições quinhentistas aos Judeus da Europa. Rigor histórico e mestria num inesquecível romance, cujo início tem lugar em Lisboa e o fim na Palestina. Retrato vivo e inquietante de uma mulher indomável, A Judia vem trazer à luz uma história verídica e impressionante do Renascimento Europeu.A Judia é uma maravilhosa incursão numa época de conturbadas políticas, acompanhando uma mulher cuja obra culminou na fundação de uma cidade hebraica na Palestina.
Plataforma - Michel Houllebecq (Bertrand)
O livro retrata o caso de Michel, um solitário e desiludido funcionário público, frequentador de peep-shows e de desenxabidas prostitutas ocidentais, que encontra em Valérie, uma mulher interessante e abertamente bissexual, a possibilidade de concretizar uma afeição marcada por uma sexualidade "natural e instintiva", que só a acção criminosa de um grupo de fundamentalistas islâmicos consegue interromper abruptamente. Pelo meio, o autor aborda muitas das inquietações que hoje em dia nos assaltam e formulamos interiormente: os perigos das selvas urbanas, as atitudes de determinados grupos étnicos ou sectores sociais e a atitude de solidão que domina as pessoas.
Celestino Antes da Madrugada - Reinaldo Arenas (Ambar)Reinaldo Arenas é um dos mais conhecidos escritores cubanos do Séc.XX.
Um dos seus livros, Antes que Anoiteça, passou a filme e teve grande sucesso no cinema . Trata-se da sua biografia, onde o autor se assume como crítico do sistema político cubano e como homossexual.
O livro Celestino antes da Madrugada é também biográfico, pois o herói tem muito em comum com o autor. Para Celestino, a sua casa é também um endiabrado enxame; também a mãe e os avós não compreendem por que razão não pára de escrever por todo o lado, inclusivamente nas folhas das árvores; também com ele gritam e o ameaçam ao mesmo tempo que se fustigam entre si. Ambos gostam de povoar o mundo que os rodeia de fantasmagóricos espíritos, seres e factos extraordinários, que habitam também os seus escritos, refúgio da sua pobre, insuportável realidade.
Celestino antes da Madrugada foi publicado em Cuba em 1967, tendo a primeira edição esgotado numa semana. Após a saída de Arenas da ilha, foi proibida, tal como o resto da sua obra. Apresentamos agora a versão definitiva que o autor deixou revista e corrigida em 1982.
Reinaldo Arenas deixa Cuba e vai viver em Nova Iorque, onde contrai SIDA e se suicida.
Críticas de imprensa:
"Recorrendo a elementos de cariz marcadamente autobiográfico, Arenas desenvolve uma narrativa que quebra todas as convenções novelísticas de época (...) e onde a personagem principal se desdobra em dois, como um jogo de espelhos onde o objectivo a alcançar passa pela construção da própria identidade (...) No equilíbrio quase bélico entre as duas personalidades, resta ao leitor o privilégio de acompanhar as longas digressões interiores que se desenham por entre os espaços da casa rural onde tudo acontece (...)"
Sara Figueiredo Costa, Setembro de 2006
O Sanatório de Cascais - Manuel Viqueira (Ambar)
A única sinopse que encontrei relativa a este livro foi no blog
As Minhas Leituras.
A Parte do Outro - Eric-Mannuel Schmitt (Ambar)Críticas de imprensa:
Autor de inúmeros romances e peças de teatro, vários deles editados em Portugal, Eric-Mannuel Schmitt assume neste
A Parte do Outro a difícil tarefa de reconstruir o mundo como se Adolf Hitler tivesse seguido um rumo diferente, nas Belas-Artes. O exercício inclui uma visão romanceada e paralela do Hitler que a História conhece, mas é da utópica primeira hipótese que se alimenta a narrativa. Em alguns momentos, a certeza de que estamos perante uma ficção combina mal com as tentativas constantes de revelar a mente de uma personagem que não deixa de ser histórica mas, no geral, pode dizer-se que a mistura dos dois planos favorece o texto, para além de constituir uma interessante especulação sobre como seria o mundo sem Hitler o tentar destruir.
Sara Figueiredo Costa,
in Os Meus Livros de Dezembro de 2005
A Maldição de Edgar - Marc Dugain (Ambar)
Edgar J. Hoover, que dirigiu o FBI durante quase meio século, é uma figura mítica, para sempre ligada a uma época negra da história dos Estados Unidos.
De 1924 a 1972 as maiores personagens americanas (políticos, artistas e outras figuras de relevo) foram perseguidas até na sua intimidade por este homem, possuidor de um enorme poder. Este romance conta essas histórias, com base em relatórios de escutas e fichas de informação e outros documentos.
Uma das fontes de informação em que se baseou o autor deste livro para recriar a realidade dessa época foram os textos (Memórias) atribuídos a Clyde Tolson, que foi adjunto de Edgar J. Hoover, mas sobretudo seu amante.