A revista Os Meus Livros (doravante OML) de Março será a última. Já muito boa gente expressou a sua opinião sobre este destino (aqui, aqui, aqui e aqui). Como é habitual com os recentemente falecidos, a maioria das pessoas apenas tem palavras amáveis acerca do mesmo. Confesso que não é o meu caso. Quase todas as reacções ao seu encerramento referem como é triste o desaparecimento de uma publicação exclusivamente dedicada a livros num país que praticamente não as tem. Mas poucos falam dos méritos e deméritos da mesma. Não me basta que uma publicação seja sobre um assunto que me interessa. Importa a qualidade com que o aborda.
Comecei a ler a revista com alguma regularidade numa altura em que a anterior encarnação da LER ainda existia. Entre as duas, preferia claramente a OML. Mas desde então notei um progressivo decréscimo na sua qualidade, e simplesmente deixei de achar que valesse a pena comprá-la. As críticas a livros tornaram-se cada vez mais genéricas e as apresentações de novos lançamentos muitas vezes pouco ou nada acrescentavam às lombadas e capas dos livros. Os temas seleccionados para desenvolvimento, nem sempre se revestiam de interesse (pese a subjectividade) ou eram explorados da forma mais conveniente. Até este último número, foram sempre as entrevistas que me mereceram a maior atenção.
O outro aspecto que destacaria dos textos que li, são os elogios ao seu director cessante, João Morales. Acredito que fizessse muito com os parcos recursos que aparentemente tinha. Também acredito que um aumento dos mesmos se reflectisse na qualidade da publicação. Mas não querendo parecer insensível, isso pouco interesse tem. O importante para o consumidor final é que o interesse que a revista lhe suscita justifique comprá-la. E infelizmente, isso já não acontecia no meu caso. Só podemos sentir a falta de algo por que genuinamente ansiamos.
Para completar, apenas algumas notas soltas:
1. O ressurgimento da LER, por si só, já era suficiente para aumentar a concorrência sobre a OML. A forma como a LER foi praticamente incensada por muitos, em muito contribuiu para relegar a OML à obscuridade.
2. A OML tinha graves problemas de distribuição. Não era uma revista fácil de encontrar, sobretudo fora de Lisboa. Se deixou de ser colocada nas bancas porque não vendia, ou não vendia porque não era colocada nas bancas, não sei. Mas por mais de uma vez a quis comprar e não a encontrei.
3. Encerrar uma revista é uma opção do grupo económico que a detém, e concorde-se ou não, é legítima. Afinal de contas trata-se de um negócio, e é sempre mais fácil opinar sobre como gastar o dinheiro alheio. Mas isso não invalida que se possa, e deva, demonstrar respeito pelos seus responsáveis e leitores, permitindo-lhe ao menos uma despedida condigna.
4. É verdade que com a Internet, e sobretudo o advento dos blogs, a informação disponível aumentou substancialmente. Para sobreviver, a revista tem claramente de oferecer conteúdos distintos e mais aprofundados dos disponíveis em espaços de cariz predominantemente amador, sob pena de se esgotar a sua razão de ser. Mas a par dessa concorrência, existe também a possibilidade de descobrir pessoas que possam trazer contributos inovadores para esses projectos.
5. Quis o destino que o último número da OML oferecesse um livro da Ambar na sua compra. Ambar, que parece ter abandonado a sua vertente editorial, começando a ser difícil encontrar os seus livros. Acabei por comprar um livro de António Manuel Venda que me interessava ("O Que Entra Nos Livros"). Ironicamente, não consigo imaginar melhor despedida.
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