quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Temos pena...(2)
...que o fórum do Estante dos Livros vá encerrar já a partir do final do mês. Vai continuar online, mas não será possível fazer novos posts. A Célia (provavelmente mais conhecida por Canochinha), cujo entusiasmo suportava praticamente sozinho esse espaço, não tem mais o ânimo ou tempo necessários para continuar o projecto. Resta agradecer-lhe, dar os parabéns pela qualidade de um espaço que soube conquistar o seu lugar, e alimentar a esperança de que se as circunstâncias se alterarem, este possa um dia regressar. E mesmo que saiba a pouco, podemos continuar a acompanhar a sua paixão pelos livros no blog que lhe deu o nome.
Temos pena...
... de não poder frequentar o Curso de Gestão de Projectos Editoriais que os Booktailors vão ministrar durante os meses de Fevereiro e Março. Parece interessante para quem pretenda ter uma visão global do processo de edição, nomeadamente os aspectos técnicos da mesma. Mas como não é a primeira vez que o organizam, muito provavelmente também não será a última. Talvez na próxima vez.
Para além de interesse no conteúdo do mesmo, tenho curiosidade em saber até que ponto o mercado editorial valoriza, em concreto, os cursos organizados pelos Booktailors: convictos da sua utilidade ao ponto de serem relevantes na selecção de funcionários; numa perspectiva formativa complementar mas de importância moderada; ou se simplesmente não os valoriza de todo?
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
O Desertor - Daniel Silva
O Desertor é a mais recente aventura protagonizada por Gabriel Allon, o espião israelita criado por Daniel Silva, a ser publicada em Portugal. Os acontecimentos que descreve vêm no imediato seguimento do volume anterior, As Regras de Moscovo, em que o seu antagonista foi o traficante de armas Ivan Kharkov. Grigori Bulganov, o homem que por duas vezes salvou a vida de Allon na Rússia, desaparece do seu exílio britânico. Descrente na possibilidade de que o tenha feito voluntariamente, e motivado pela promessa que lhe fez de que não acabaria morto e desfigurado numa vala anónima (punição tradicionalmente reservada aos traidores na Rússia), o espião/restaurador de arte, abandona, uma vez mais, o seu retiro na Úmbria para tentar salvar o amigo.
Sem grandes dúvidas de estar perante a vingança de Kharkov, Allon sabe igualmente que será uma questão de tempo até ser alvo da mesma. Os seus actos possibilitaram o desmoronar da rede de tráfico de armas de Kharkov, o roubo de uma substancial parte da sua fortuna, e mais importante, a fuga da sua mulher e filhos. Gabriel tenta descortinar as circunstâncias que rodearam o desaparecimento de Bulganov, na esperança de achar a ponta do novelo que o leve até ao seu cativeiro. Mas quando falha em proteger Chiara, a sua mulher, vê-se forçado a tomar medidas extremas (e a desfazer-se de alguns escrúpulos), para evitar que se repita a sua história pessoal (o atentado que vitimou o seu filho e a sua primeira mulher, é um dos elementos estruturantes do perfil psicológico da personagem).
Os enredos e mecanismos narrativos utilizados por Daniel Silva pouco ou nada acrescentam aos títulos anteriores. É mais do mesmo. Mas feito com a competência habitual. Os apreciadores de Gabriel Allon não sairão desapontados, mas é melhor não esperar muito além de um elemento de continuidade. O próprio desenlace não consegue escapar a essa monotonia, embora chegue a alimentar essa expectativa. É no entanto uma obra que se centra mais na vertente pessoal de Allon, visto que é sobre si, e não Israel, que recaem todos os perigos. É na evolução pessoal do protagonista, e das suas relações com um conjunto de velhos conhecidos cada vez mais recorrentes (Shamron, Seymour, Bancroft, Carter, Navot, entre outros), que se notarão os maiores desenvolvimentos, pelo que se torna tão mais relevante conhecer os antecedentes dos mesmos. Por esse motivo, bem como o facto de ser uma continuação directa da história anterior, será talvez a pior escolha possível para um primeiro contacto com esta série.
Daniel Silva aborda através da sua ficção a promiscuidade que actualmente existe na Rússia (em que o apoio do Governo a um criminoso como Kharkov seria perfeitamente normal, desde que acarretasse lucro), e de como este estado de coisas é directamente conexo ao percurso económico e social de antigos quadros da KGB (como é o caso de Vladimir Putin). Opressão e corrupção são as duas constantes num país em que a actividade jornalística é descrita como uma das mais perigosas profissões do mundo. Casos como os de Alexander Litvinenko e Anna Politkoyskaya são evocados directamente, ou através de personagens que se encontram em contextos similares.
Fica-se a aguardar a edição nacional do livro seguinte da série, The Rembrandt Affair, sendo que está prometido para meados de 2011 o lançamento do 11º volume da mesma, Portrait of a Spy. Talvez um deles traga resposta à minha suspeita de que Allon mais não seja que o ramo judaico da família de Jack Bauer.
Classificação: 7,5/10
Título: O Desertor
Autor: Daniel Silva
Editor: Bertrand Editora
Edição: 2010
Páginas: 448
Etiquetas:
Críticas Literárias,
Livros lidos em 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Aquisições de Dezembro
Em Dezembro permiti-me um desvio à contenção orçamental do momento. Afinal de contas, era Natal! No Freeport, comprei pela exorbitante quantia de 5€ cada os quatro livros que de seguida se enumeram: Cavalos Roubados de Per Peterson; O Cavalo a Tinta-da-China de Baptista-Bastos; Planisfério Pessoal de Gonçalo Cadilhe, e História do Cerco de Lisboa de José Saramago. Comprei-os na semana que mediou entre o Natal e o Ano Novo. Havia muitos outros títulos interessantes a preços em conta. Que me recorde: O Jogo do Anjo e A Sombra do Vento de Carlos Ruiz Záfon a 10€ cada; O Homem Duplicado de José Saramago a 5€; diversos títulos de António Lobo Antunes (edições ne varietur) a 8€ a peça; O Fantasma de Hitler de Norman Mailer por 8€, entre outros. Quem passar por Alcochete e quiser aliviar um pouco a carteira, é dar uma espreitadela.
Mesmo com os amigos e entes queridos a reduzirem nas prendas de Natal (exemplo seguido pela malta cá de casa), ainda apanhei dois livros: Caderneta de Cromos de Nuno Markl, e o Sonho do Celta de Mario Vargas Llosa.
Para encerramento das hostilidades e condigna celebração do final de 2010, satisfiz dois dos maiores desejos da lista de compras futuras. O Desertor de Daniel Silva, e a Literatura Nazi nas Américas de Roberto Bolãno, já repousam orgulhosamente na minha estante.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Leituras do ano que passou
Durante 2010 não houve lugar a listas de leituras ou compras. Não saberia recitar de memória a maior parte dos livros que li no ano passado, e acerca de muitos ficaria na dúvida se os li nesse ou outro ano. Mas algumas leituras marcaram os doze meses anteriores pelos mais diferentes motivos:
Somos o Esquecimento que Seremos e Não Matem a Cotovia, por conseguirem captar em palavras algo de nobre do ser humano. E por o fazerem com genuinidade, sem recorrerem a exageros narrativos ou descritivos. Fortemente baseados nas experiências pessoais dos próprios autores, ambos nos conduzem pela importância do amor entre um pai e os seus filhos; e de como quando este é um bom homem, se torna a medida pela qual os seus sucessores se avaliarão. Mostra-nos igualmente que tentar fazer o que achamos certo nem sempre conduz a um final feliz; e porque ainda assim muitos acreditam valer a pena viver segundo esses princípios.
Shantaram, uma obra auto-biográfica romanciada, porque a vida de Gregory David Roberts é um daqueles casos em que a realidade supera a ficção. Maioritariamente passado na Índia, existe de tudo um pouco nesta odisseia: violência, miséria, crime, amor, obsessão, e algumas personagens memoráveis. Roberts guia-nos através do submundo de Bombaim ao longo de 900 páginas, e apesar da sua extensão, é com tristeza que chegamos à última página. O adágio "toda a gente tem um livro dentro de si" surgiu devido a casos assim.
D. Amélia pela surpresa que constitui para mim. Lido por recomendação, confesso que contrariei os meus preconceitos (uns fundados, outros nem por isso) acerca de alguns autores portugueses, nomeadamente no que ao registo de romances históricos se refere. Instigado pelo alarido acerca do regicídio, proporcionou-me uma perspectiva interessante sobre o período final da monarquia em Portugal. Não uma perspectiva imparcial, ou o mais completa possível. Mas antes humana, que tenta recriar os estados de alma de uma das suas principais intervenientes.
Uma conspiração de estúpidos fez-me ir às lágrimas de tanto rir. Não imaginava ao ler as primeiras páginas, embora cómicas, que pelo final do livro teria mergulhado num mundo em que a idiotice é o valor dominante e surge instituída de uma simetria que pauta a existência do mesmo. O epicentro, e simultaneamente expoente máximo deste, é Ignatius Reilly, uma das personagens mais geniais que conheci. Sem ser imbecil no sentido mais clássico do termo, funciona numa frequência que é diferente do resto da humanidade, e lhe confere a capacidade de conduzir quem o rodeia à insanidade. O prazer da leitura foi tanto maior, porque já conheci o meu Ignatius (embora na versão feminina), e sei agora que estas pessoas, embora raras, existem mesmo fora da ficção. E sim, mesmo quando têm um excelente coração, possuem o condão de nos levar à loucura.
Compreende-se porque é que As Memórias Póstumas de Brás Cubas é considerado por tantos uma das maiores obras primas da literatura brasileira e da ficção escrita em português. Não vou mencionar a história que conta porque não é o que mais importa. O que importa é que Machado de Assis tem um tal dom para a escrita, que se tivesse escrito sobre o acto de cortar as unhas, muitos teriam lido essa prosa com gosto (o próprio incluído).
Por último, Contos Completos I de John Cheever que me encheu as medidas. Não é raro perdurar após a leitura de contos a sensação de lamento por as ideias que abordam não terem sido mais desenvolvidas. John Cheever consegue a quase perfeição entre o tamanho do conto e o que precisava ser dito. Consegue captar o espírito de uma época da América, através do mosaico que este conjunto de contos (todos no mesmo registo) nos apresenta. Perdura o travo de que a caneta do autor foi pousada nem uma palavra a mais ou a menos antes.
A memória privilegia as leituras mais recentes, pelo que muito provavelmente outras obras igualmente marcantes ficaram esquecidas. Mas pouco importa em que ano um bom livro tenha sido lido. Importa que tenha sido lido.
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