Quando era mais novo, já lá vão quinze anos ou coisa que o valha, o DN jovem recebia e publicava textos de quem começava a experimentar com a sua necessidade de escrever. O lançamento recente de um livro sobre esse projecto, fez-me lembrar não só essas páginas, mas também um velho amigo. O Pedro era dotado, provavelmente além do limiar de génio. Recordo-me de ele ler e compreender no preparatório, obras que estão vedadas à generalidade das pessoas, até uma década mais tarde. Nalguns casos, sempre. Garanto-vos que não estou a exagerar.
De mãos dadas com esse talento, caminhava uma melancolia permanente. O seu corpo jovem parecia por vezes carregar um espírito muito mais velho que os anos que tinha. Como alguém desgastado pela vida. Não soube lidar com os primeiros desgostos de amor, as reflexões existenciais em que mergulhou, com a falta de finalidade da própria vida que acreditou encontrar. Pôs termo a tudo no topo do Viaduto Eduardo Pacheco, após ler as palavras do seu livro favorito, e ouvir a música que o marcava. Sei estes pormenores, porque vinham na despedida que o DN jovem lhe publicou, a par dos melhores textos que para lá tinha enviado, um recorte de jornal que guardo até hoje.
Lembro-me da raiva e confusão que senti por tanto desperdício. Da tristeza e dor nos seus pais enquanto me abraçavam, eu que tinha entrado com o seu filho perdido no primeiro dia da escola primária. Ainda hoje o vejo, pois os caminhos que percorro podiam ser paralelos aos dele. Mas lembro-me sobretudo, da tristeza que senti por saber que nunca mais ia estar com o meu amigo. Nós, que andámos a recolher assinaturas e a falar na rádio de ecologia, decididos a salvar o planeta. E mesmo após todos estes anos, continuo a ter saudades do meu amigo.
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