segunda-feira, 6 de junho de 2011

Hoje é o primeiro dia do resto da História de Portugal

  Acabam de se realizar as eleições legislativas, num momento em que o país se encontra metido numa camisa de sete varas. Passos Coelho não foi a minha opção para desempenhar o papel de mal menor para Portugal. Vislumbro na sua postura tiques de autoritarismo, que aliados a ideias pouco consistentes para as políticas que pretende implantar, não me deixam particularmente optimista. E se digo particularmente, é porque sou essencialmente um optimista, e espero que melhores tempos se avizinhem. Que esteja tão enganado quanto for possível.

  A alternativa viável, José Sócrates, também deixava a desejar. Embora tenha sido confrontado com circunstâncias muito específicas, e anormalmente complicadas (a borrasca do BPN, a crise do sub-prime, e a actual crise que enfrentamos), e se tenha desenvencilhado razoavelmente (tanto quanto possível) das mesmas, fica a imagem de um líder comprovadamente autoritário, arrogante, e que sempre se caracterizou pela evidência da aparência em detrimento do conteúdo. Ficam igualmente algumas situações mais dúbias, que nunca foram completamente clarificadas (aquele diploma ao domingo, Freeport, alteração da lei penal com efeitos à medida do caso Casa Pia, ou outros que envolvessem políticos). O seu melhor argumento nestas eleições, era simultaneamente o seu calcanhar de Aquiles: se estava a par e passo com a situação concreta do país, e da melhor forma de aplicar as reformas negociadas com a troika com maior celeridade, é porque já lá estava, e constituiu também ele parte do problema. É uma questão de escolher entre o mal que se conhece, e o mal que se desconhece. Abona a seu favor ter ido a votos, e não ter saído de mansinho, num país em que as grandes figuras são muitas vezes candidatos apenas em caso de vitória provável.

  Para trás ficam rábulas como as de Fernando Nobre (creio que nunca vi alguém gozar de tanto crédito junto do público, e tão rápido o desbaratar), as farófias, a percentagem africana de cada candidato, as novas oportunidades de ignorância, ou de como se deve negar a responsabilidade pelos erros até ao fim, qual marido adúltero. Para trás, fica também uma campanha em que não se discutiu o fundamental neste momento: como vão ser aplicadas concretamente as medidas do memorando (inevitavelmente, a maior parte do próximo programa governativo), e como se vão reflectir nos bolsos dos portugueses. Porque discutir ideais é muito bonito (e importante), mas as contas para pagar são certas.

1 comentário:

David Maxsuel Lima disse...

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